Alguns dos 220 imigrantes `resgatados pelo navio da Marinha brasileira no mar Mediterrâneo na sexta-feira (4) contaram que estavam há dois dias sem comer, relatou ao G1 o comandante da embarcação, Alexandre Amendoeira Nunes.
Eles desembarcaram da corveta brasileira Barroso por volta das 14h deste sábado (5) no porto de Catânia, na Sicília (Itália), onde foram acolhidos e cadastrados pelas autoridades.
Conforme o comandante Nunes, os imigrantes, a maioria de origem síria e libanesa - havia também um indiano a bordo-, haviam partido de Benghazi, na Líbia, e estavam havia 7 dias em alto mar. A embarcação em que estavam, de dois andares e de madeira, levava cerca de 350 tripulantes quando, na verdade, tinha capacidade para apenas 80, diz Nunes.
O resgate ocorreu após a corveta Barroso ter sido acionada pelo Centro de Busca e Salvamento Marítimo (MRCC) italiano, que identificou navio com chance de naufrágio próximo à Grécia. A embarcação brasileira, que seguia para o Líbano, onde a Marinha participa de uma força naval em missão de paz da ONU, era a mais próxima do local para ajudar na tarefa.
"Os tripulantes estavam em dificuldades, o combustível estava acabando e estavam com pouca comida. Como o peso estava mal distribuído, a embarcação estava adernada de lado já", afirma o comandante. "Pelo que nos relataram, não havia um local específico de destino, buscavam qualquer local que pudessem desembarcar em solo italiano", explica o oficial brasileiro.
Com ajuda de um imigrante que falava inglês, a tripulação da corveta conversou com os imigrantes. "Eles não relataram que tinham medo, nada os preocupava. Diziam que o risco vale a pena. Estavam em busca de melhores condições de vida, e também de um local que pudessem trabalhar, onde não houvesse conflito. Fugiam da violência", afirma o comandante Nunes.
Resgatados
Entre os resgatados havia 89 homens, 94 mulheres e 37 crianças, inclusive 4 bebês de colo. A maioria dos adultos tinha idades entre 30 e 40 anos. As crianças, conta o comandante, apresentavam queimaduras e assaduras, devido à exposição ao sol durante dias e também estavam com a roupa molhada. Uma mulher estava com o braço fraturado e uma outra, estava grávida.
Ninguém foi diagnosticado com doenças. Todos os imigrantes receberam soro, alimentação e cobertores, tendo sido avaliados por médicos e recebido remédios a bordo da embarcação brasileira.
Em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo, o comandante relatou também que os imigrantes "se sentiram muito agradecidos" pelo resgate. "Hoje pela manhã, após servirmos um café da manhã, eles começaram a interagir mais com a nossa tripulação, a efetuar brincadeiras e se sentiram muito agradecidos com o fato de um navio brasileiro ter os resgatado".
"Me sinto apenas um cidadão, um servidor da Marinha do Brasil. Sinto muito orgulho do que faço perante o Brasil. Nada de heroísmo, apenas a nossa função de salvaguarda da vida no mar, como somos treinados desde os bancos escolares. Não considero isso heroísmo, mas parte do nosso dever na Marinha do Brasil", afirmou Nunes.
Pagamento
O comandante da embarcação clandestina não quis falar. Conforme o comandante brasileiro, os imigrantes relataram que pagaram para a travessia, mas não relataram o valor.
"A maioria estava só com a roupa do corpo. Alguns, as mulheres em especial, levavam mochilas com roupas para as crianças e documentos. Não encontramos objetos de valor", diz Nunes.