O brasileiro Rodrigo Gularte, condenado
à morte na Indonésia por tráfico de drogas, não sabe que poderá ser
executado a qualquer momento, informou a prima dele, Angelita Muxfeldt, que o
acompanha no país asiático, segundo o jornal “Hora 1”. A brasileira contou que
seu primo está muito calmo e ainda acredita que será solto.
O governo local não informou
a data e a hora das execuções, mas acredita-se que elas ocorrerão nas primeiras
horas desta quarta-feira (29) – tarde desta terça-feira (28) no horário de
Brasília.
A prisão de segurança máxima
da ilha, situada ao largo da costa de Java, teve reforço na proteção nesta
terça. Conselheiros religiosos, médicos e o pelotão de fuzilamento foram
alertados para iniciar os preparativos finais para a execução, e uma dúzia de
ambulâncias, algumas carregando caixões cobertos de cetim branco, chegaram ao
local.
A brasileira saiu chorando
da prisão e deu uma entrevista aos jornalistas indonésios, em uma tentativa de
sensibilizar o governo, tentando dizer ao presidente do país que ele errou ao
recusar o pedido de clemência de Gularte. Há uma equipe de 10 advogados
trabalhando pelo brasileiro, além de uma ONG, que resolveu ajudar.
Angelita contou que não
disse ao primo claramente o que deve ocorrer nas próximas horas e que ele não
sabe o que vai acontecer, apesar de ter sido informado no sábado. Segundo a
brasileira, ele tem delírios e não entendeu que será executado, nega que isso
vá ocorrer e acredita que vai ser solto.
O brasileiro foi
diagnosticado com esquizofrenia por dois relatórios no ano passado. Em março,
uma equipe médica reavaliou o brasileiro a pedido da Procuradoria Geral
indonésia, mas o resultado deste laudo não foi divulgado.
Familiares e conhecidos
relataram que Gularte passa seus dias na prisão conversando com paredes e
ouvindo vozes. Dizem que ele se recusa a tirar um boné, que usa virado para
trás, alegando ser sua proteção.
O brasileiro passou 11 anos
em prisões da Indonésia. Ele foi preso em julho de 2004 após tentar entrar na
Indonésia com 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe e foi condenado à
morte em 2005.
Gularte poderá ser o segundo
brasileiro a ser executado na Indonésia. Em janeiro, o carioca Marco
Archer Cardoso Moreira foi fuzilado após ser condenado à morte por tráfico
de drogas.
Aos prisioneiros será dada a
opção de ficar de pé, ajoelhar-se ou sentar-se diante do pelotão de
fuzilamento. Suas mãos e pés serão amarrados.
Doze atiradores vão mirar no
coração de cada prisioneiro, mas apenas três armas terão munição de verdade. As
autoridades dizem que isso é para que o carrasco não seja identificado.
Autoridades concederam na
segunda-feira o último desejo do australiano Chan, que era se casar com sua
namorada indonésia na prisão.
Outros condenados
Além do brasileiro Rodrigo
Gularte, sete outros estrangeiros e um indonésio podem ser executados nas
próximas horas na Indonésia. Todos foram condenados por tráfico de drogas e
tiveram seus pedidos de clemência rejeitados. Dois australianos, quatro
nigerianos e uma filipina estão na lista. Já o francês Serge Atlaoui teve sua
execução adiada por recurso.
Os australianos Myuran
Sukumaran e Andrew Chan são considerados integrantes de uma quadrilha de
traficantes conhecida como “Os Nove de Bali”. Chan, de 31 anos, foi preso no
aeroporto de Bali em abril de 2005, acusado de tentar contrabandear 8 kg de
heroína. Sukuraman, um cidadão australiano nascido em Londres, de 34 anos, é
acusado de ser o líder dos "Nove de Bali" e foi condenado em 2006.
A ministra das Relações
Exteriores da Austrália, Julie Bishop, afirmou ter recebido uma carta do
chanceler indonésio na noite desta segunda avisando sobre a execução iminente
dos dois traficantes, sem oferecer nenhuma esperança de indulto.
"Eles não deram nenhuma
indicação de que o presidente [indonésio, Joko] Widodo mudaria de ideia e
concederia a clemência que temos tentado", disse Bishop à "Nine
Network" na terça-feira (horário local).
Bishop disse que não foi dada
uma data ou hora para as execuções de Myuran Sukumaran e Andrew Chan. O governo
australiano pediu à Indonésia para adiar as execuções até que as alegações de
que o julgamento dos dois teria sido marcado por corrupção sejam investigadas.
Uma apelação no Tribunal Constitucional também deve ser julgada até 12 de maio.
A única mulher do grupo tem
30 anos e foi presa no aeroporto de Jacarta em 2010 com 2,5 kg de heroína. Ela
afirma que foi enganada por uma mulher que havia prometido um emprego como
doméstica e escondeu drogas em sua bagagem. Seu mais recente pedido de revisão
de julgamento foi rejeitado na segunda.
O nigeriano Martin Anderson,
de 50 anos, foi inicialmente identificado como ganês porque usava um passaporte
falso ao ser preso, em 2003, com cerca de 30 gramas de heroína. Acusado de ser
integrante de uma quadrilha em Jacarta, foi sentenciado à morte em 2004.
Outro nigeriano do grupo é
Okwudili Oyatanze, de 41 anos. Ele foi preso em 2001 quando tentava entrar no
país, vindo do Paquistão, com 2,5 kg de heroína em cápsulas em seu estômago.
Condenado à morte no ano seguinte, compôs mais de 70 músicas e gravou discos de
música gospel dentro da prisão.
Sylvester Obiekwe Nwolise, de
47 anos, é outro nigeriano que foi preso ao tentar entrar no país com cápsulas
de heroína em seu estômago, no caso pouco mais de 1 kg. Atraído ao Paquistão
por uma promessa de emprego, diz que concordou em levar a droga por achar que
se tratava de pó de chifre de cabra, contrabandeado apenas para evitar o
pagamento de impostos. Ele foi preso e condenado em 2001.
O estrangeiro que há mais
tempo aguarda execução é o nigeriano Jamiu Owolabi Abashin, de 50 anos. Sua
versão é a de que um amigo, que o acolheu quando ele vivia nas ruas de Bangkok,
na Tailândia, pediu para que ele levasse um pacote com roupas usadas para uma
mulher que venderia as peças em Surabaya, na Indonésia. Abashin diz que só ao
chegar ao aeroporto e ser preso, por usar um falso passaporte espanhol com o
nome de Raheem Agbaje Salami, descobriu que carregava mais de 5 kg de heroína
em sua bagagem. Ele foi condenado inicialmente à prisão perpétua, em 1999, e
teve sua pena reduzida para 20 anos após uma apelação. Mas, em 2006, a Corte
Suprema da Indonésia alterou novamente sua pena, condenando-o à morte.
Único não estrangeiro no
grupo que deve ser executado esta semana, Zainal Abidin, de 50 anos, foi
condenado depois que a polícia encontrou cerca de 60 kg de maconha em sua casa,
em Palembang, em dezembro de 2000. Ele diz que a droga pertencia a dois amigos
que estavam hospedados no local e que ele sequer sabia o conteúdo dos pacotes.
Em 2001, ele foi condenado a 15 anos de prisão, mas no mesmo ano sua sentença
foi convertida à pena de morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário