sexta-feira, 24 de abril de 2015

Especialistas atribuem poluição do Rio a falhas no tratamento de esgoto

O tratamento da rede de esgoto  é uma preocupação em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Segundo especialistas, parte da poluição do Rio São Francisco é gerada por falhas no tratamento realizado pela Companhia Pernambucana de Abastecimento (Compesa).
A dona de casa, Vanessa de Magalhães diz que o uso da água é constante, tanto para realizar as atividades domésticas, como para a higiene pessoal. "Tenho duas crianças e que sujam muito, eles brincam e soam e tem um grande consumo de água, mas  a gente tenta o possível economizar devido a seca e a falta de chuva”.
Tudo que cai nos ralos da dona de casa Vanessa tem destino certo, a lagoa de estabilização da Cohab 6 em Petrolina. O local recebe os esgotos do bairro e também do Residencial Nova Petrolina. A água suja fica armazenada nas lagoas durante dez dias.
A coordenadora de tratamento de esgoto da Compesa, Marcela Paiva, explica o processo de tratamento que é biológico. “Essas lagoas de estabilização são baseadas em tratamento biológico do esgoto e não é necessário adicionar nenhum produto químico para que ocorra o processo de tratamento. Dentro dessas lagoas existem bactérias e algas que consomem a matéria orgânica, o poluente presente no esgoto para que haja a remoção com eficiência e posteriormente o destaque no corpo receptor".
De acordo com a especialista Marcela, a cada trinta dias amostras são colhidas para saber a qualidade do tratamento."Todos os dados são fornecidos para os orgãos fiscalizadores. E as as lagoas de estabilização de Petrolina são consideradas bastante eficientes e estão dentro dos parâmetros legais”, destaca.
Após percorrer cerca de um quilômetro e meio de canal, o esgoto tratado na lagoa de estabilização deságua no riacho vitória e se misturar com o Rio São Francisco. Apesar de todo o processo, a Agência Reguladora do Município de Petrolina (Armup) diz que o tratamento não é eficiente. “Se houvesse de fato o tratamento eficiente dessas lagoas, o Rio São Francisco não estava tão poluído como está agora.  Basta ver as baronesas que estão por aí às nossas margens. Esse é um sinal da natureza que não está havendo equilibrio ecológico e a Amma também tem processo de multa para cobrar mais eficiência”, explica Melo Júnior, presidente da Armup.
Segundo a bióloga, Mary Ann Saraiva, há estudos que comprovam que o motivo da poluição do rio está relacionado ao descarte incorreto da rede de esgoto. "Temos alguns estudos com uma aluna que está terminando mestrado na Universidade do Estado da Bahia, onde mostra que a contaminação do Rio São Francisco foi identificada acima da legislação e em vários fatores tanto biológicos, quanto químicos. Isso pode ser por descarte com menor monitoramento e um má descarte dessas lagoas, onde o afluente que passa lá não passa os dez dias e assim todo o processo de tratamento não é feito de forma eficaz. Todos nós pagamos o tratamento de esgoto, a Compesa tinha que fazer um tratamento e um monitoramento”.
O Diretor regional da Compesa, João Raphael de Queiroz, conta que o clima da cidade ajuda no processo de tratamento. “Nós temos o acompanhamento mensal nas unidades e elas estão atendendo o que prevê a portaria. Nós fazemos o tratamento adequado, despejamos nos córregos naturais e loteamentos que foram implantados irregularmente e restaurantes que não fazem o tratamento devido e jogam o esgoto in natura no rio e nós temos indústrias que estão sendo fiscalizadas”. São 15 unidades de tratamento de esgoto. A Compesa tem a concessão para operar sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário.
A Promotora do Meio Ambiente, Ana Rúbia Torres de Carvalho, disse que o Ministério Público comprovou que a Compesa não faz o serviço que é pago para fazer. “Nós interpusemos uma ação civil pública na Justiça Federal para que a Compesa pudesse captar e tratar todos efluentes antes de retirar e jogar no Velho Chico. Há 14 anos tem ação, e há um ano, aguardamos o julgamento. Espero que no futuro próximo a Compesa trate todos os efluentes de Petrolina”.

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