'Já tive até sonho com a casa caindo em cima do meu filho', diz a dona de casa Valcicléia Maciel, de 24 anos, que vive com os três filhos, 1, 3 e 7 anos no imóvel que teve quase toda a estrutura levada pelas águas do Rio Acre. O conjunto de kitnets de propriedade de Valcicléia, localizado na rua Pôr-do-sol, bairro Areal, em Rio Branco, começou a desmoronar há duas semanas, quando as águas deixaram o seu quintal. Sem ter para onde ir, a dona de casa decidiu, juntamente com o marido, continuar no local, mesmo com o risco de tudo desabar.
A família de Valcicléia vivia no primeiro apartamento e alugava os outros a três famílias. Quando as águas começaram a invadir o local, algumas famílias foram para um abrigo, outras para casa de parentes e Valcicléia foi para casa do sogro, com o marido e os filhos. Ela conta que a água chegou no teto da casa e a família precisou suspender parte dos móveis. Os demais foram levados para a casa do sogro, onde a família ficou cerca de um mês.
De acordo com Valcicléia, parte do quintal começou a desabar quando as águas baixaram um metro e meio do quintal da casa. Com a vazante, a varanda, um banheiro e uma cisterna foram levados pelo desmoronamento. A família ainda teve prejuízo com as máquinas de fazer sorvetes do marido, de 36 anos, principal renda da família."A água chegou aqui em meados de fevereiro, deu tempo de levantar algumas coisas, outras nós deixamos. As famílias que deixaram as coisas quando voltaram não prestava mais nada", relembra.
"Limpamos as casas quando retornamos, ainda tinha a varanda, o banheiro e a cisterna e tinha também água no quintal. Quando secou, a água foi lavando e levando tudo junto. Os maiores prejuízos foi com o maquinário de sorvete, porque caiu dentro da água, molhou e teve que ser consertado e por ser industrial o preço é mais caro", justifica.
Além de Valcicléia, as demais famílias que moravam no local também perderam objetos domésticos, roupas e outros equipamentos. A dona de casa lembra que, quando retornou para casa, todos os inquilinos que moravam nos apartamentos abandonaram o local.
"Os inquilinos disseram que não dava para ficar mais, que tinham perdido tudo por causa da água. Tinha um que morava há dois anos aqui, mas felizmente conseguiu tirar as coisas dele. Meu marido é teimoso, achava que a água não ia subir e foi deixando. Em 2012 a água também subiu, mas não foi com essa proporção, ficou abaixo de 1,50 metros dentro de casa, agora ficou acima de dois metros", diz.
Questionada sobre o perigo de ficar dentro da casa, sendo que parte do quintal já desabou e o barranco ainda apresenta sinais de deslizamento, Valcicléia conta que não tem opção. Segundo a dona de casa, ela já chamou o marido para sair do local, mas ele disse que não quer deixar o bairro, devido a proximidade com o Centro da cidade.
"A intenção do meu marido é reformar, para gente voltar a alugar os apartamentos, que é uma renda para gente. O meu marido não quer sair, mas por mim nós sairíamos. Tenho medo que tudo desabe, já tive até sonho com a casa caindo. No sonho, a casa caía em cima do meu filho de 7 anos. Tenho cuidado para eles não virem para essa parte da casa, fecho a porta e não deixo eles virem para cá", finaliza.
Cheia histórica
Rio Branco ainda tenta se recuperar da cheia histórica do Rio Acre, que chegou à marca de 18,40 metros, no dia 4 março. Na capital acreana, a cheia desabrigou mais de 10,4 mil pessoas em 53 bairros. No total, em torno de 87 mil pessoas foram afetadas diretamente pela cheia. Após a vazante do rio, ao menos 33 casas foram condenadas pela Defesa Civil, nos bairros Seis de Agosto e Cidade Nova.
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