quinta-feira, 23 de abril de 2015

Petrobras tem 1º prejuízo desde 1991; perda com corrupção é de R$ 6,2 bi



Após um longo período de espera e expectativa, a Petrobras finalmente divulgou nesta quarta-feira (22) o balanço auditado do exercício de 2014. A companhia registrou no ano passado um prejuízo de R$ 21,587 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013.
A Petrobras informou no balanço que a baixa contábil pelo esquema de pagamentos indevidos investigado pela Lava Jato foi de R$ 6,194 bilhões. Ou seja, essa foi a perda por corrupção, segundo a estatal.
Ao comentar o balanço, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, fez um pedido de desculpas em nome dos funcionários da companhia pelo escândalo de corrupção. “Sim, a gente está com sentimento de vergonha por tudo isso que a gente vivenciou, por esses malfeitos que ocorreram. Não temos clarividência muito clara se foi de fora para dentro ou de dentro da fora. Sim, faço pedido de desculpa em nome dos empregados da Petrobras porque hoje sou um deles”, disse.
LUCRO DA PETROBRAS
Em R$ bilhões
9,99,8817,717,823,725,921,532,928,935,133,321,123,5-21,5200020052010-30-20-10010203040
Fonte: Economatica
Perdas de R$ 6 bilhões com corrupção
"O valor da baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente no ativo imobilizado oriundos do esquema de pagamentos indevidos descoberto pelas investigações da Operação Lava Jato (baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente) foi de R$ 6,194 bilhões", afirma o balanço.

A petroleira afirmou, no entanto, que não consegue identificar especificamente os valores de cada pagamento indevido.
Sobre a metodologia utilizada, a companhia explicou que listou todas as empresas citadas nas investigações e os contratos assinados com as contrapartes. Depois, calculou o valor desses contratos, identificando todos os pagamentos feitos, e aplicou um percentual fixo de 3% sobre o valor total, para estimar os gastos adicionais sobre o "montante total dos contratos".
Diretoria de Costa liderou perdas
Dos R$ 6,2 bilhões perdidos com corrupção, segundo o balanço, a maior parte (55%) ocorreu na área de Abastecimento, que foi comandada por Paulo Roberto Costa, com baixa de R$ 3,326 bilhões. Gás e Energia respondeu por R$ 637 milhões das perdas. As áreas de Distribuição e Internacional tiveram baixas de R$ 23 milhões cada uma, ao passo que o Corporativo da companhia teve perda de R$ 99 milhões.
Outros R$ 150 milhões referem-se a pagamentos indevidos de empresas não citadas na Lava Jato.

Segundo Bendine, no entanto, o cálculo com as perdas pode ser considerado "conservador" e, caso apareçam fatos novos nas investigações, o valor poderá ser corrigido. "A gente pode até entender que esse número provisionado foi conservador. A gente tentou extrapolar o máximo possível para dar este tipo de conforto e ter um faixa para para trabalhar, na medida que isso for apurado e julgado", disse.'Cálculo conservador'

Ao calcular as perdas com corrupção, a estatal concluiu, "com base nos depoimentos tornados públicos", que o esquema de pagamentos indevidos funcionou entre 2004 a abril de 2012.

Aldemir Bendine, petrobras (Foto: Estadão Conteúdo)
Maior prejuízo anual desde 1991
O prejuízo líquido de R$ 21,6 bilhões em 2014 é o maior desde 1991, quando a Petrobras registrou perdas de R$ 1,21 bilhão, segundo dados da Economatica, em valores corrigidos pela inflação.

Segundo a Petrobras, a desvalorização dos ativos foi calculada levando em consideração, sobretudo, três fatores: a queda nos preços do petróleo, a redução da demanda e o atraso em projetos de refino no país por um longo período. Desvalorização de ativos em R$ 44 bilhões o balanço auditado, a  companhia reduziu o valor de seus ativos em R$ 44,3 bilhões, após ter reavaliado uma série de projetos, principalmente a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
'Capacidade de superação'
"Com a publicação dos resultados de 2014 auditados, a Petrobras transpôs uma importante barreira, após um esforço coletivo, que evidencia nossa capacidade de superação de desafios em um contexto adverso. Este exercício me trouxe ainda mais confiança de que iremos responder às questões estratégicas que nos defrontam", escreveu Bendine no balanço, acrescentando que o o novo plano de negócios priorizará a área de exploração e produção de petróleo e gás.

O resultado do 3º trimestre também foi revisado pelos auditores, de um lucro de R$ 3,1 bilhões para um prejuízo de R$ 5,339 bilhões.
Para o economista Jason Vieira, a explicação sobre as inconsistências que reduziram o patrimônio da empresa em R$ 44 bilhões foi “superficial” e não esclarece se houve de fato superfaturamento, além do esquema de propinas pagas pelas empresas citadas na operação Lava Jato.
Na visão do economista Marcelo D’Agosto, a baixa contábil é um bom começo para a empresa começar a separar "o joio do trigo", mas o aumento do endividamento da empresa, um efeito prático dessas perdas por corrupção, complica a geração de caixa da estatal.
Governo
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou, após sucessivas denúncias de irregularidades envolvendo a estatal e reveladas pela Operação Lava Jato.

“O Palácio do Planalto avalia que a divulgação do balanço pela Petrobras mostra a superação de uma fase e mostra também que a estatal terá todas as condições de retomar os projetos”, informou a Presidência da República.

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