Quase um ano e meio depois de contrair um empréstimo de R$ 10 mil para replantar uma árvore que estava na propriedade de sua família há mais de 50 anos, a professora aposentada Alma Ione Marinoni, de 76 anos, estava animada com a recuperação da planta. Zelosa, ela fazia questão de visitar a paineira – também conhecida como barriguda - diariamente em uma área de Goianira, na Região Metropolitana de Goiânia. Mas há cerca de uma semana ela recebeu uma notícia que a deixou "apavorada": um incêndio danificou parte da árvore, de 15 metros de altura.
O fogo atingiu uma área de aproximadamente 1 mil m². Boa parte do tronco e algumas folhas da copa foram queimadas. "Uma amiga minha, que é policial, me ligou e disse: 'queimaram a barriguda'. Fui imediatamente para ver e me deparei com aquela cena. Foi uma brutalidade o que esses vândalos foram capazes de fazer",
Alma nasceu em Gênova, na Itália, e se mudou para o Brasil com os pais no fim da década de 1950. Primeiro, viveu em São Paulo e, em 1964, foi para Goianira. Neste ano, o pai dela plantou a árvore no quintal da casa onde moravam. Com as mortes dos pais, ela se mudou da casa e, após sucessivos problemas com inquilinos, decidiu vender o imóvel da família. No entanto, o novo comprador precisava atender a uma única exigência: não cortar a paineira.
O imóvel foi negociado em 2013, mas, segundo a aposentada, o proprietário não cumpriu o acordo. "O comprador me garantiu que não iria tirar a árvore. Mas, meses depois, ele mudou de ideia e me comunicou que precisava cortá-la", afirma a aposentada.
Sendo assim, ela fez o empréstimo e contou com ajuda de pessoas que se sensibilizaram para retirar a barriguda da casa e a replantar em uma área verde cerca de 3 km da chácara onde ela vive atualmente no dia 31 de janeiro de 2013. A operação foi realizada com o trabalho de vários homens, carretas, retroescavadeira e até de um guindaste, que içou a planta, que pesa cerca de 30 toneladas.
Fogo
Desde então a árvore estava se recuperando, quando foi danificada pelo incêndio. A aposentada revela que alguns vizinhos viram o fogo e tentaram apagá-lo com baldes de água, mas não conseguiram. Ela acredita que o incêndio foi proposital.
"Quando cheguei aqui, vi que tinham três pneus queimados no pé da arvore. Alguém os colocou lá para que a barriguda fosse atingida, não tenho dúvida", alega. Apesar disso, ela diz que não vai registrar o caso na polícia porque "não iria adiantar nada".
Para evitar que a árvore seja alvo de novas queimadas, ela resolveu agir. Após ter quitado o empréstimo para transferir a planta de lugar, sendo parte com uma verba doada por pessoas que acreditavam em sua causa, Alma desembolsou mais R$ 600 com materiais de construção que serão usados para fazer uma cerca de tijolos com 1 metro de altura ao redor da planta, além de uma calçada cimentada.
Crime ambiental
De acordo com secretária de Meio Ambiente de Goianira, Nilda Jacinto da Silva, que também é bióloga, ambientalista e amiga de Alma, as queimadas clandestinas estão ocorrendo com frequência na cidade. Ela diz que nos últimos dias, pelo menos 15 áreas publicas e privadas foram incendiadas.
Não existe limite. Essa árvore faz parte da minha história"
Alma Marinone, aposentada
"Vamos registrar as ocorrências e procurar o Ministério Público para nos ajudar a encontrar os autores que estão cometendo este crime ambiental" afirma.
Em relação à árvore, a secretaria, que acompanha o caso desde o início, disse que os estragos podem ser recuperados. "Ela sofreu danos de médio porte. Além disso, ela já está acostumada a nos surpreender. Quando a replantamos aqui, esperávamos o primeiro broto em sete meses, mas ele nasceu em 21 dias", diz.
O local onde a barriguda está localizada deveria ter se transformado em um bosque em dezembro do ano passado, mas, segundo Nilda, a execução do projeto foi adiada para setembro deste ano por falta de verba.
Esperança
Apesar da situação, Alma ainda se mostra confiante que tudo vai dar certo. "A esperança e a última que morre", diz. A mulher ainda espera poder “tomar champanhe” ao lado da barriguda quando ela estiver completamente florida.
“Não existe limite, faço o que for preciso para salvá-la. Essa árvore foi minha companheira por muitos anos, faz parte da minha história”, comenta.
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