quinta-feira, 21 de maio de 2015

Delegado compara suspeito no Rio com golpista que virou filme

Rafael Caram é suspeito de estelionato, diz polícia (Foto: Arquivo Pessoal)
Rafael Caram é suspeito de estelionato 

Pessoas que se dizem vítimas do empresário Rafael Miranda Caram, suspeito de aplicar um golpe de R$ 30 milhões em pelo menos 50 vitímas, compareceram à Delegacia de Defraudações (DDEF), na Cidade da Polícia, em Bonsucesso, Subúrbio do Rio, na tarde de quarta-feira (20). Responsável pelo caso, o delegado da especializada, Aloysio Falcão, comparou Rafael a Marcelo Nascimento da Rocha, que ganhou fama de "maior golpista do Brasil" em 2001.

"Ele utilizava da confiança de amigos de infância, de indicações".

Em 2001, Marcelo Nascimento se passou pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea Gol para conseguir regalias. Deu até entrevista a um programa de TV, durante o Recifolia, carnaval fora de época da capital pernambucana. O golpista foi preso, escreveu um livro e depois teve sua vida retratada no cinema, em 2011, no filme "Vips", estrelado por Wagner Moura.
Rafael Caram usou sua rede de amigos para atrair dinheiro para supostos fundos de investimentos, nos mais variados – e inexistentes – negócios. No início depositava o lucro para os investidores, mas quando o negócio cresceu muito, segundo as supostas vítimas, ele deixou de pagar e foi para os Estados Unidos.
De acordo com o delegado, por ser réu primário, caso seja condenado Rafael pegaria pena de dois a três anos por cada crime. Somadas, as penas podem chegar a 50 anos de prisão.
Grupo na internet
As vítimas criaram um grupo na internet para contabilizar os prejuízos e trocar informações para tomar as providências legais contra o suposto estelionatário. A suspeita é de que pessoas de fora do Rio de Janeiro também tenham caído no golpe.

A promessa era receber, a cada 40 dias, 16% do valor investido em um suposto Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Ou seja, um retorno 20 vezes maior que a caderneta de poupança, por exemplo. O valor mínimo a ser investido seria sempre de R$ 50 mil.

Vítima perdeu R$ 300 mil
O economista César Trotte, uma das vítimas, diz que entrou no investimento há um ano e meio e teve prejuízo de R$ 300 mil. Segundo ele, Rafael inventou investimentos em aço, venda de diesel e até fraudou balanços da Petrobras para convencer os investidores. Para cada vítima, ele citava um tipo de investimento distinto.

“Ele é irmão de uma menina com quem eu estudei a vida toda. Sentamos para conversar e ele me pagou três jantares, fez um teatro como se fosse do ramo, fechando cotas de investimento. Coloquei R$ 30 mil inicialmente, tive lucro, e depois R$ 270 mil. Desde então, ele começou a travar o negócio. Aí ele dizia que teria a dobra, que ia dobrar os valores e vinha enrolando. Enrolou até outubro e novembro. Como ele viu que o cenário estava ficando feio, foi para os Estados Unidos”, explicou Trotte.
Ele é irmão de uma menina que eu estudei a vida toda. Sentamos para conversar e ele me pagou três jantares, fez um teatro como se fosse do ramo, fechando cotas de investimento (...) como ele viu que o cenário estava ficando feio, foi para os Estados Unidos"
César Trotte, vítima do golpe
Amigo de infância
O administrador Frederico Siciliano, de 31 anos, foi convidado pelo suspeito para participar de um fundo que investiria em diesel para caminhões. Apesar de serem amigos desde crianças, Frederico conta que tentou se inteirar sobre como funcionava o esquema e a rentabilidade prometida, que chegaria a mais de 50% ao ano.

“Ele foi muito convincente com a história, apesar de alguns pontos, às vezes, não baterem muito bem, principalmente quanto a possível rentabilidade do negócio”, disse.
CPI da Petrobras como argumento
Frederico conta que chegou a questionar Rafael sobre o esquema ser uma pirâmide, o que foi negado pelo suspeito. De acordo com a vítima, o empresário dizia que estava chamando apenas poucas pessoas de confiança para entrar no negócio e que o sigilo deveria ser mantido.

Troca de mensagens pelo Whatsapp entre a vítima e Rafael Caram (Foto: Arquivo Pessoal / César Trotte)
“Inicialmente neguei a proposta, mas ele tentou me convencer de todas as maneiras, prometendo pagar juros altos mensais. Utilizou a nossa amizade e confiança de anos para me convencer. Então, entrei com R$ 50 mil mediante uma nota promissória de 10 parcelas de R$ 8 mil, com juros de R$ 30 mil propostos por ele acreditando que, na pior das hipóteses, receberia pelo menos o principal de volta. Depois de muito esforço, consegui apenas duas parcelas de R$ 8 mil de volta, pois alegava que a CPI da Petrobras havia paralisado tudo e os contratos com a Odebrecht estavam suspensos."
Inicialmente neguei a proposta, mas ele tentou me convencer de todas as maneiras prometendo pagar juros altos mensais. Utilizou a nossa amizade e confiança de anos para me convencer"
Frederico Siciliano, vítima do golpe
Suposta fuga
O empresário Antoniel Souza, de 38 anos, que foi casado com uma das irmãs de Rafael, conta que recentemente começou a ser pressionado pela família do suposto estelionatário para assinar uma procuração onde permitisse que o filho deles, de 1 ano, pudesse viajar para os Estados Unidos. Segundo ele, os familares alegavam que queriam levar a criança para conhecer a Disney.

“Eu relutei muito para assinar, mas nunca desconfiei que houvesse nada de errado com eles. Acabei assinando a procuração e, agora, sabendo de toda essa história, percebi que na verdade todos eles querem fugir para os Estados Unidos e levar o meu filho. Fui hoje [terça-feira] na Polícia Federal. Amanhã [quarta-feira], vou ao juizado de menores para cancelar essa procuração. Se eles forem, eu nunca mais vou ver meu filho”, disse.
Troca de e-mails entre Frederico e Rafael em outubro de 2014 (Foto: Arquivo Pessoal / Frederico Siciliano)Troca de e-mails entre Frederico e Rafael, em outubro de 2014 (Foto: Arquivo Pessoal / Frederico Siciliano)
Nota promissória com comprovante de depósito de Frederico Siciliano (Foto: Arquivo Pessoal / Frederico Siciliano)
"Apuramos e vimos que são vários estelionatos. Cada crime é individual, sem conexão com os demais. Ele vinculava só alguns e-mails, mas todas as vítimas são independentes, não existe bola de neve. Ele agora encontra-se foragido. Em princípio é estelionato, ele agiu só, não tem indício de ter outra pessoa, mas faltam umas partes, outras pessoas têm que depor.

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