domingo, 7 de junho de 2015

Bicicletas é alvo de investigação no Rio

Homem circula em feira negociando duas bicicletas (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)

A Polícia Civil investiga a venda clandestina de bicicletas no Rio. A operação pretende entender o esquema de compra e venda que pode ser abastecido com produtos que foram roubados na cidade. No último dia 20 de maio.
Os investigadores já sabem da existência do comércio ilegal em Manguinhos e Jacarezinho — um dos suspeitos da morte de Jaime Gold foi apreendido na primeira comunidade e pelo menos mais um frequentava a segunda. Em São Cristóvão, também na Zona Norte, o G1 encontrou uma feira onde bicicletas e peças de bicicleta são vendidas a, no máximo, R$ 300. Foram encontradas bikes sendo vendidas por apenas R$ 60.
Ciclistas do Rio, que preferiram não se identificar, afirmaram que já encontraram produtos roubados na feira que é acontece na Rua Almirante Mariath, próxima ao Instituto de Traumatologia e Ortopedia, que fica na Avenida Brasil.
A Polícia Civil afirmou que investigações estão em andamento para identificar autores de roubos e furtos de bicicletas em São Cristóvão. Uma equipe da 17ª DP (São Cristóvão) irá ao local da feira checar se há comercialização de bicicletas roubadas.
Homem vende bicicleta por R$ 60 em feira (Foto: Matheus Rodrigues/ G1)
Secretaria Municipal de Ordem Pública informou que “a feira em questão é irregular e já sofreu diversas ações de repressão. Além disso, a secretaria afirmou que ações de repressão serão intensificadas no local.
Arlindo Pereira Junior, ciclista há mais de 15 anos e instrutor de ciclismo, viu as fotos tiradas peloG1 das bicicletas vendidas em São Cristóvão. Uma das fotos mostra a placa de uma bicicleta vendida a R$ 60.
"Pela foto, parece uma bike bem simples, dessas que se vende a R$ 200, R$ 300, se forem novas. Sessenta reais parece barato demais", avaliou, alertando que há feiras do mesmo tipo em outros pontos da Zona Norte, no Subúrbio do Rio e na Baixada Fluminense.
Bicicletas roubadas foram apreendidas (Foto: Mariucha Machado / G1)Bicicletas roubadas foram apreendidas pela Polícia
Civil (Foto: Mariucha Machado / G1)
Proibição de venda
Após a morte do médico, uma operação da Divisão de Homicídios apreendeu nove bicicletas em Manguinhos, uma delas avaliada em R$ 30 mil. O delegado da Divisão de Homicídios Giniton Lages informou que a polícia está realizando diligências na região para verificar possíveis locais de venda clandestina e receptação.

"Nós observamos bicicletas importadas durante uma operação no Jacaré e Manguinhos. As bicicletas são vendidas ali por pessoas de fora e de dentro das comunidades. A gente está em contato com a delegacia da área e eles afirmaram que já existe procedimentos sendo instaurados para apurar o caso”, afirmou.
Moradores das duas favelas, que não quiseram se identificar, contaram ao G1 que, após a operação, os traficantes da região ordenaram que a venda de peças e de bicicletas na região fosse interrompida. Segundo moradores, eles afirmaram que era necessário "dar uma segurada" para não "babar o negócio".
Jovens de bicicleta estariam sendo revistados e reclamaram do procedimento. “Falaram para a gente que só a nota fiscal para liberar a bicicleta”, contou um morador. Segundo a PM, a maior parte das apreensões de menores tentando roubar bicicletas na Zona Sui do Rio envolve menores entre 16 e 19 anos, vindos das duas comunidades.
Bicicletas usadas por menores foram levadas para DP (Foto: Reprodução/TV Globo)
"Já se sabe que aquela área é receptáculo dessas bicicletas roubadas, então orientamos à Chefia de Polícia que façam revistas naquela área", confirmou o Major Alexandre Leite, chefe do setor de análise criminal da PM.
Em nota, a assessoria das UPPs informou que os policiais que realizam patrulhamento nessas áreas são orientados a solicitar a documentação de compra das bicicletas em casos de suspeita. Ainda segundo a nota, os comandantes também estão trocando informações com a delegacia da área para combater esse tipo de crime na região.
Venda na internet
Donos de lojas de bicicletas enfrentam concorrência do mercado negro. Em muitos casos, o produto roubado é vendido com valor bem abaixo do de mercado. É o que conta Andre Hanfas, dono de uma loja na Zona Sul do Rio.

“Eles desmontam e vendem as peças separadas. Um par de rodas de competição custa em média R$ 3 mil. Você vê elas sendo vendidas a R$ 500. Rodas de passeio que custam R$ 500, eles vendem a R$ 200 ou vendem pelo o que conseguir”, contou ele.
O vendedor revelou ainda que assaltantes utilizam a internet para anunciar bicicletas roubadas. “O que acontece muito é elas serem vendidas em fóruns de Facebook. Por exemplo, o cara anuncia ‘vendo 6 pares de rodas’. Ás vezes, em preços não compatíveis. Já vi até anunciarem peça e perguntarem quanto elas valem, para vender por esse preço. Mas o cara não sabe o quanto pagou pelo negócio? É muito venda estranha”, disse Andre.
O presidente da Comissão de Segurança dos Ciclistas do Rio, Rafael Pazos, afirmou que a população deve fazer a sua parte e comprar apenas produtos originais e com nota fiscal.
“Se a pessoas compra um produto sem procedência ou nota fiscal, ela certamente está comprando o produto que era de alguém que foi esfaqueado ou roubado. E alguém está lucrando com isso”, explicou.
Projeto de Lei e CPI
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou na terça-feira (2), o projeto de lei que
prevê a tipificação do crime de roubo de bicicletas dos deputados Andre Ceciliano (PT) e  Marta Rocha (PSD), presidente da Comissão de Segurança da Alerj. O texto prevê ainda a criação de um cadastro estadual de bicicletas recuperadas.

Uma emenda do deputado Paulo Ramos (PSOL) foi aprovada para a instalação de chips nas bicicletas. “Precisamos saber onde estão os receptadores”, alertou Martha Rocha. “Neste projeto, a gente obriga que as lojas coloquem o número de série na nota fiscal e o próprio proprietário possa identificar e ter uma forma de recuperar suas bicicletas", disse o deputado André Ceciliano.
Na Câmara de Vereadores, foi aprovada a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o assunto. “ A primeira função é nós vermos a questão do desmanche de bicicletas e a revenda e venda sem comprovação fiscal”, explicou o vereador Jefferson Moura, autor do requerimento de criação da CPI, que deve visitar feiras que vendem peças e bicicletas em bairros da Zona Norte, no Subúrbio do Rio e na Baixada Fluminense, além do monitoramento de atividades comerciais envolvendo bicicletas na internet.

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