A Polícia Civil investiga a venda clandestina de bicicletas no Rio. A operação pretende entender o esquema de compra e venda que pode ser abastecido com produtos que foram roubados na cidade. No último dia 20 de maio.
Os investigadores já sabem da existência do comércio ilegal em Manguinhos e Jacarezinho — um dos suspeitos da morte de Jaime Gold foi apreendido na primeira comunidade e pelo menos mais um frequentava a segunda. Em São Cristóvão, também na Zona Norte, o G1 encontrou uma feira onde bicicletas e peças de bicicleta são vendidas a, no máximo, R$ 300. Foram encontradas bikes sendo vendidas por apenas R$ 60.
Ciclistas do Rio, que preferiram não se identificar, afirmaram que já encontraram produtos roubados na feira que é acontece na Rua Almirante Mariath, próxima ao Instituto de Traumatologia e Ortopedia, que fica na Avenida Brasil.
A Polícia Civil afirmou que investigações estão em andamento para identificar autores de roubos e furtos de bicicletas em São Cristóvão. Uma equipe da 17ª DP (São Cristóvão) irá ao local da feira checar se há comercialização de bicicletas roubadas.
Secretaria Municipal de Ordem Pública informou que “a feira em questão é irregular e já sofreu diversas ações de repressão. Além disso, a secretaria afirmou que ações de repressão serão intensificadas no local.
Arlindo Pereira Junior, ciclista há mais de 15 anos e instrutor de ciclismo, viu as fotos tiradas peloG1 das bicicletas vendidas em São Cristóvão. Uma das fotos mostra a placa de uma bicicleta vendida a R$ 60.
"Pela foto, parece uma bike bem simples, dessas que se vende a R$ 200, R$ 300, se forem novas. Sessenta reais parece barato demais", avaliou, alertando que há feiras do mesmo tipo em outros pontos da Zona Norte, no Subúrbio do Rio e na Baixada Fluminense.
Proibição de venda
Após a morte do médico, uma operação da Divisão de Homicídios apreendeu nove bicicletas em Manguinhos, uma delas avaliada em R$ 30 mil. O delegado da Divisão de Homicídios Giniton Lages informou que a polícia está realizando diligências na região para verificar possíveis locais de venda clandestina e receptação.
"Nós observamos bicicletas importadas durante uma operação no Jacaré e Manguinhos. As bicicletas são vendidas ali por pessoas de fora e de dentro das comunidades. A gente está em contato com a delegacia da área e eles afirmaram que já existe procedimentos sendo instaurados para apurar o caso”, afirmou.
Moradores das duas favelas, que não quiseram se identificar, contaram ao G1 que, após a operação, os traficantes da região ordenaram que a venda de peças e de bicicletas na região fosse interrompida. Segundo moradores, eles afirmaram que era necessário "dar uma segurada" para não "babar o negócio".
Jovens de bicicleta estariam sendo revistados e reclamaram do procedimento. “Falaram para a gente que só a nota fiscal para liberar a bicicleta”, contou um morador. Segundo a PM, a maior parte das apreensões de menores tentando roubar bicicletas na Zona Sui do Rio envolve menores entre 16 e 19 anos, vindos das duas comunidades.
"Já se sabe que aquela área é receptáculo dessas bicicletas roubadas, então orientamos à Chefia de Polícia que façam revistas naquela área", confirmou o Major Alexandre Leite, chefe do setor de análise criminal da PM.
Em nota, a assessoria das UPPs informou que os policiais que realizam patrulhamento nessas áreas são orientados a solicitar a documentação de compra das bicicletas em casos de suspeita. Ainda segundo a nota, os comandantes também estão trocando informações com a delegacia da área para combater esse tipo de crime na região.
Venda na internet
Donos de lojas de bicicletas enfrentam concorrência do mercado negro. Em muitos casos, o produto roubado é vendido com valor bem abaixo do de mercado. É o que conta Andre Hanfas, dono de uma loja na Zona Sul do Rio.
“Eles desmontam e vendem as peças separadas. Um par de rodas de competição custa em média R$ 3 mil. Você vê elas sendo vendidas a R$ 500. Rodas de passeio que custam R$ 500, eles vendem a R$ 200 ou vendem pelo o que conseguir”, contou ele.
O vendedor revelou ainda que assaltantes utilizam a internet para anunciar bicicletas roubadas. “O que acontece muito é elas serem vendidas em fóruns de Facebook. Por exemplo, o cara anuncia ‘vendo 6 pares de rodas’. Ás vezes, em preços não compatíveis. Já vi até anunciarem peça e perguntarem quanto elas valem, para vender por esse preço. Mas o cara não sabe o quanto pagou pelo negócio? É muito venda estranha”, disse Andre.
O presidente da Comissão de Segurança dos Ciclistas do Rio, Rafael Pazos, afirmou que a população deve fazer a sua parte e comprar apenas produtos originais e com nota fiscal.
“Se a pessoas compra um produto sem procedência ou nota fiscal, ela certamente está comprando o produto que era de alguém que foi esfaqueado ou roubado. E alguém está lucrando com isso”, explicou.
Projeto de Lei e CPI
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou na terça-feira (2), o projeto de lei que
prevê a tipificação do crime de roubo de bicicletas dos deputados Andre Ceciliano (PT) e Marta Rocha (PSD), presidente da Comissão de Segurança da Alerj. O texto prevê ainda a criação de um cadastro estadual de bicicletas recuperadas.
Uma emenda do deputado Paulo Ramos (PSOL) foi aprovada para a instalação de chips nas bicicletas. “Precisamos saber onde estão os receptadores”, alertou Martha Rocha. “Neste projeto, a gente obriga que as lojas coloquem o número de série na nota fiscal e o próprio proprietário possa identificar e ter uma forma de recuperar suas bicicletas", disse o deputado André Ceciliano.
Na Câmara de Vereadores, foi aprovada a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o assunto. “ A primeira função é nós vermos a questão do desmanche de bicicletas e a revenda e venda sem comprovação fiscal”, explicou o vereador Jefferson Moura, autor do requerimento de criação da CPI, que deve visitar feiras que vendem peças e bicicletas em bairros da Zona Norte, no Subúrbio do Rio e na Baixada Fluminense, além do monitoramento de atividades comerciais envolvendo bicicletas na internet.
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