Resumo: O brincar faz parte da infância, e através deste possibilita um
repertório de desenvolvimentos, seja na esfera cognitiva, quanto na social,
biológico, motor e afetiva. Além de encontrar prazer e satisfação, jogando a
criança se socializa e aprende, além de poder reproduzir sua realidade através
da imaginação, expressando assim suas angústias, dificuldades, que por meio das
palavras seria difícil. O objetivo do presente trabalho é abordar a importância
do lúdico no processo de ensino-aprendizagem infantil na faixa etária de 3-6
anos. Buscando compreender a importância dos jogos e brincadeiras como
subsídios eficazes na construção do conhecimento infantil através de
estimulações necessárias na produção de sua aprendizagem. O trabalho
desenvolveu-se através da pesquisa bibliográfica ou fontes secundárias, fazendo
parte de uma documentação indireta. Tal pesquisa implica no levantamento de
dados de bibliografias já publicada à respeito do estudo. A ludicidade é um
grande laboratório para o desenvolvimento integral da criança, que merece
atenção dos pais e dos educadores, pois é através das brincadeiras que a
criança descobre a si mesmo e o outro, além de ser um elemento significativo e
indispensável para que a criança possa aprender com prazer, funcionando como exercícios
úteis e necessários à vida.
Palavras-Chave: Lúdico, Aprendizagem, Infância, Psicologia
Escolar
1. Introdução
O lúdico é parte integrante do mundo infantil da vida de todo ser
humano. Os jogos e brinquedos fazem parte da infância das crianças, onde a
realidade e o faz de conta intercalam-se. O olhar sobre o lúdico não deve ser
visto apenas como diversão, mas sim, de grande importância no processo de
ensino-aprendizagem na fase da infância.
A criança ao brincar e jogar se envolve tanto com a brincadeira, que
coloca na ação seu sentimento e emoção. Pode-se dizer que a atividade lúdica
funciona como um elo integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos
e sociais, portanto a partir do brincar, desenvolve-se a facilidade para à
aprendizagem, o desenvolvimento social, cultural e pessoal e contribui para uma
vida saudável, física e mental.
Ao brincar a criança também adquire a capacidade de simbolização,
permitindo que ela possa vencer realidades angustiantes e domar medos
instintivos.
O brincar é um impulso natural da criança, que aliado à aprendizagem
torna-se mais fácil à obtenção do aprender devido à espontaneidade das
brincadeiras através de uma forma intensa e total.
A problemática que será analisada busca compreender a importância dos
jogos e brincadeiras como subsídios eficazes na construção do conhecimento
infantil através de estimulações necessárias na produção de sua aprendizagem.
Com o objetivo de servir aos educadores, pais, psicólogos e a profissionais de
áreas afins, o incentivo da ludicidade as crianças como uma das
principais fontes de aprendizagem. Portanto, partindo de tal pressuposto fundamenta-se
a necessidade de evidenciar como lúdico influencia no processo de
ensino-aprendizagem infantil estabelecendo a consciência da importância dos
jogos no desenvolvimento e na educação da criança?
Nesse sentido, de forma geral, buscou-se analisar a importância do
lúdico no processo de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento infantil na
faixa etária de 3 – 6 anos. E de maneira específica, estudar sobre o
desenvolvimento cognitivo da criança; compreender a importância do lúdico para
o desenvolvimento cognitivo e analisar as formas pelas quais o lúdico facilita
os processos de ensino-aprendizagem no desenvolvimento infantil.
O presente projeto desenvolveu-se através da pesquisa bibliográfica ou
fontes secundárias, fazendo parte de uma documentação indireta. Tal pesquisa
implica no levantamento de dados de bibliografias já publicada à respeito do
estudo. Em relação ao método utilizado, empregou-se o indutivo onde parte-se do
que já existe de científico publicado. Este método explica conhecimentos
existentes cujo objetivo é ampliar o saber. Por sua vez, o método de
procedimento abordado, aquele no qual está restrito as ciências sociais foi o
método monográfico cujo estudo determinado é realizado observando grupos,
indivíduos, comunidades, instituições comparando generalizações entre tais.
O mundo infantil difere de uma maneira qualitativamente do mundo adulto,
nele há fantasia, faz de conta, sonhar e o descobrir. Por meio das
brincadeiras, ação mais comum da infância, que a criança terá oportunidade de
se conhecer e constituir-se socialmente. Através da espontaneidade do brincar
que a criança poderá explicitar as diferentes percepções concebidas dentro do
seu contexto familiar e social.
2. Desenvolvimento
Cognitivo Infantil
O ser humano, desde a concepção ultrapassa por uma série de processos de
desenvolvimentos, formando um ser biopsicossocial e espiritual, devido à
interação entre o indivíduo e seu meio. Pode-se dizer que a infância é a fase
onde a criança vai gradativamente e lentamente se adequando ao mundo. Ao falar
em desenvolvimento, integra-se tal termo à ideia de crescimento, sobretudo o
físico e o biológico. Mas essa expressão vai muito mais além do que é apenas
visível.
O desenvolvimento humano resulta num processo de construção de uma série
de fatores, entre influências biológicas, intelectuais, sociais e culturais.
Bock (2002, p.98) diz que “o desenvolvimento humano refere-se ao
desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é
uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de
estruturas mentais.” O crescimento orgânico entende-se aquele ligado ao
desenvolvimento físico do ser humano, que acontece desde o nascimento.
A produção de conhecimentos pela criança são espontaneamente produzidos,
mediante a cada estágio de desenvolvimento em que esta se encontra. Para Piaget
citado por Bock (2002), a criança passa por quatro estágios de
desenvolvimentos, sendo eles: o primeiro período compreendido pelo estágio
sensório-motor (0 a 2 anos); segundo período, correspondido pelo pré-operatório
( 2 a 7 anos); terceiro período, operações concretas (7 a 12 anos); e por
último o quarto período que são as operações formais (12 anos em diante).
Bock (2002), descreve os períodos de desenvolvimento segundo a
perspectiva de Piaget:
O período sensório-motor, o bebê vai assimilando o mundo através de suas
percepções e ações (movimentos), nota-se um crescimento acelerado do
desenvolvimento físico, ocasionando novos comportamento e habilidades. Em
relação à linguagem, caracteriza-se pelo balbucio, mais conhecida como
ecolalia, cujo significado é a repetição de sons e palavras. Como exemplo, a
criança diz “leite”, para dizer que quer leite.
O período pré-operatório é caracterizado pelo aparecimento da linguagem,
o que viabiliza assim, desenvolvimento nos aspectos afetivos, sociais e
intelectual da criança. O pensamento egocêntrico, centrada em si mesmo, não
conseguindo assim, se colocar abstratamente no lugar do outro. Com a
decorrência do desenvolvimento do pensamento, inicia-se a famosa fase dos
“porquês”, onde para todas as coisas devem ter uma explicação. O jogo
simbólico, o faz de conta, e a fantasia, acontecem fazendo com que a criança
crie imagens mentais sem a presença do objeto ou ação. Caracteriza-se também
nesse estágio, o animismo, onde a criança “dá alma” aos objetos
inanimados, como por exemplo, o caminhão foi “dormir’, há a transformação
também do objeto em satisfação do prazer ( tampa de panela como volante de um
carro). Nesse período a criança leva-se pela aparência sem relacionar os fatos,
por exemplo, um menino diz que tem mais suco do que sua irmã porque seu suco
foi despejado em um copo alto e fino, e o dela em um outro copo, só que pequeno
e largo.
O terceiro período, das operações concretas, a criança já compreende
regras, ordena elementos por tamanho, peso, desenvolvimento das noções de
tempo, espaço, ordem, entre outros. Ao estabelecer relações, a criança passa a
pensar logicamente, diminuindo seu egocentrismo, levando em conta inúmeros
aspectos de uma determinada situação. Adquire a noção de reversibilidade, que é
a capacidade de compreender um processo inverso ao observado anteriormente.
E por fim, o período das operações formais, é o ápice do desenvolvimento
cognitivo. O pensamento antes representativo, torna-se abstrato, o pensamento
torna-se hipotético-dedutivo, ou seja, é capaz de pensar em diferentes relações
possíveis, a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade.
Nessa fase, através da possibilidade de pensar e lidar com os conceitos de
liberdade e justiça, no plano emocional o adolescente vivencia conflitos
desejando liberta-se do adulto mesmo dependendo dele.
Portanto, para o autor citado acima, o desenvolvimento cognitivo é
atrelado por mudanças tanto qualitativas como quantitativas relacionadas aos
períodos anteriores, permitindo que o individuo se construa e reconstrua a cada
estrutura, tornando cada vez mais apto ao equilíbrio. As mudanças
caracterizadas como qualitativas, são aquelas referentes em números ou
quantidade, como peso, altura, tamanho do vocabulário. Já, as quantitativas,
alude a mudança na estrutura do individuo, ou seja, são aprendizagens de novas
habilidades, tomando como exemplo nas crianças, a comunicação não verbal para a
verbal.
A criança, à medida que evolui vai-se ajustando à realidade circundante,
e superando de modo cada vez mais eficaz, as múltiplas situações com que se
confronta. Na concepção de Vygotsky apud Nunez (2009), a aprendizagem
desenvolve-se a partir das relações sociais, e o pensamento e linguagem são
processos interdependentes, desde o início da vida. Para Vygotsky, o
sujeito é interativo pois, a partir das relações intra e interpessoais e de
troca com o seu meio, passa a adquirir o conhecimento.
A formação da criança é influenciada através das trocas
sociais, ou seja, através da interação com o meio que a criança vai se
desenvolvendo, consequentemente com as práticas educacionais à qual irá ser
submetida. Caso não ocorra a interação entre o individuo e o meio, o
desenvolvimento ficará defasado, devido à falta de situações propícias ao
aprendizado.
[...] essa importância que Vygotsky dá ao papel do outro social no
desenvolvimento dos indivíduos cristaliza-se na formulação de um conceito
específico dentro de sua teoria, essencial para a compreensão de suas idéias
sobre as relações entre desenvolvimento e aprendizado: o conceito de zona de
desenvolvimento proximal (OLIVEIRA, 1995, p. 58).
A relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato
de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois
processos, um caminhando ao lado do outro. Para uma melhor compreensão do
processo de ensino aprendizagem, Vygotsky propõe estudar a aprendizagem a
partir do conceito de “ Zona de Desenvolvimento Proximal ”, o qual ele irá
definir como:
A distância entre o nível de desenvolvimento determinado pela capacidade
de resolver um problema e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de um problema sob a ajuda de um adulto ou em
colaboração com outro colega capaz ( VYGOTSKY, 1989, p.89).
A Zona de Desenvolvimento Proximal, pode-se melhor entender, como a
distância entre a capacidade de algo que a criança pode fazer sozinha e o
que ela é capaz de realizar com a mediação de alguém. Vale ressaltar, que a
capacidade de realizar determinada tarefa, depende muito do certo tipo de nível
de desenvolvimento à qual está no momento.
Outro aspecto à ser debatido, diz respeito à afetividade como um outro
fator influenciável também no desenvolvimento da aprendizagem. Através da
afetividade Marrocos (2008) ratifica que as funções cognitivas se correlacionam
seja de forma operacional ou dialética, juntamente no meio social à qual está
inserida. A criança ao receber uma gama de afetividade, constrói seu saber de
uma forma mais consistente. Pinheiro (1999) apud Mendonça (2009, p. 22) alerta
que sobre a importância do afeto “a sua importância é primordial, pois considera
o alimento afetivo tão imprescindível, como os nutrientes orgânicos”.
Ultrapassando as emoções e sentimentos, o aspecto afetivo proporciona ao
impulso que a criança almeja aprender, buscando novos conhecimentos. Por meio
dessa dimensão, o sujeito manifesta externamente suas emoções e vontades.
3. O Jogo Simbólico
É na infância que inicia-se o fantasiar, fazendo um paralelo do mundo
real com o imaginário. Devido à realidade ser difícil em ser assimilada e
aceita, a criança cria seu próprio universo, onde encontra-se resoluções para
tudo, através de seus personagens imaginários, super-heróis, princesas, fadas,
monstros, bruxas, entre outros, atribuindo seus próprios sentimentos nos
brinquedos e histórias. Por exemplo, é a boneca que está com raiva porque a mãe
brigou com ela, ou o urso que está chorando porque o pai foi trabalhar, enfim,
as crianças dão vida e sentimentos aos objetos inanimados como se fossem
pessoas de verdades.
Têm-se até hoje a opinião de que a imaginação da criança é mais rica do que
a do adulto. A infância é considerada a idade de maior desenvolvimento da
fantasia e segundo essa opinião, à medida que a criança vai crescendo, diminuem
a sua imaginação e a força de sua fantasia. [...] Goethe dizia que as crianças
podem fazer tudo de tudo, e essa falta de pretensões e exigências da fantasia
infantil, que já não está livre na pessoa adulta, foi interpretada
frequentemente como liberdade ou riqueza da imaginação infantil (...). Tudo
isso junto serviu de base para afirmar que a fantasia funciona na infância com
maior riqueza e variedade do que na idade madura. A imaginação da criança [...]
não é mais rica, é mais pobre do que a do adulto; durante o desenvolvimento da
criança, a imaginação também evolui e só alcança a sua maturidade quando
homem é adulto.( VYGOTSKY apud ELKONIN 1998, p.124)
O jogo simbólico caracteriza-se pela representação da realidade, por uma
tendência imitativa e imaginativa. Aplica-se à imaginação, devido ao fato de
ser situações as quais são impossíveis de serem realizadas sozinhas, devido à
sua faixa etária. Para Vygotsky apud Arce (2004), uma das atividades principais
da infância é a brincadeira, relacionando com a sua teoria, a brincadeira cria
uma zona de desenvolvimento proximal da criança, pois permite à criança a
interiorização de ações que ultrapassam sua idade, mas permitindo uma aquisição
da sua realidade circundante de maneira criativa.
Através do jogo simbólico, a criança passa a adquirir a capacidade de
representar simbolicamente suas ações por meio de sua capacidade de pensar.
Pode-se tomar como exemplo, os bonecos/bonecas que as crianças tomam, como
pai/mãe, filho/filha, as caixas de papelões que tomam com carros entre outras
coisas, que simbolizam coisas da realidade.
Através da utilização dos jogos simbólicos, as crianças exprimem seus
desejos por meio do real. E é uma maneira também de facilitar a compreensão
acerca da realidade, já que ainda são incapazes de entender respostas
realistas. Uma função dessas inúmeras fantasias elaboradas pelas crianças, é a
de equilibrá-la emocionalmente, oportunizando dessa forma uma melhor elaboração
e diminuição de suas angústias e ansiedades, agindo também, como método de
autodefesa e auto afirmação.
O crescer é algo inerentemente conflituoso, no entanto a criança ultrapassa
a linha da racionalidade e atribui na fantasia como forma de elaboração para as
mais diversas vivências. Dessa forma, quando na brincadeira a mesma fica
doente, morre, são formas destas lidarem com suas angústias.
“Para dominar os problemas psicológicos do crescimento – superar
decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de
abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de
autovalorização, e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender
o que está se passando dentro de seu inconsciente. Ela pode atingir essa
compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da
compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas
familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados – ruminando,
reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a
pressões inconscientes, o que capacita a lidar com este conteúdo ( BETTELHEIM
1980, p.16).
Já que a vida para a criança muitas vezes é desconcertante, há
necessidade da criança entender esse mundo caótico, e o lúdico possibilita as
crianças uma elaboração de seus conflitos internos, organizando simbolicamente
o mundo real. O jogo para Freud apud Ferreira (2000), além de ser uma fonte de
prazer, promove uma economia na despesa psíquica, além de fazer um investimento
emocional altíssimo, já que leva à sério o mundo da fantasia. “ A criança
brinca não porque não sabe falar, como querem alguns teóricos, mas “porque
deseja”. O brincar da criança é determinado por desejos” ( Freud, 1976 [1908],
p. 151 apud Ferreira 2000). Assim como nos sonhos, a criança realiza suas
fantasias por meio das brincadeiras.
A criança exprime seus desejos, assim como nos sonhos, fantasias por
meio dos jogos e brincadeiras, principalmente naquelas de faz de conta, onde
seus sentimentos são expostos através do simbólico. Por meio do brincar, à
apreensão da realidade é mais fácil, o brinquedo vai muito mais além de um
simples produto, torna-se um processo pelo qual é de fundamental importância no
desenvolvimento da infância.
4. O Lugar do
Lúdico no Desenvolvimento Cognitivo da Criança
A atividade lúdica é um instrumento que possibilita as crianças à
aprenderem relacionar-se com outros, promove maior desenvolvimento cognitivo,
motor, social e afetivo. Por meio do brincar, a criança experimenta, descobre,
inventa, adquire habilidades, além de estimular a criatividade, autoconfiança,
curiosidade, autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do
pensamento e da concentração devido a situação de alguns jogos e brincadeiras,
consequentemente gerando uma maturação de novos conhecimentos.
O eixo da infância é o brincar, sendo um dos meios para o crescimento, e
por ser um meio dinâmico, o brinquedo oportuniza o surgimento de
comportamentos, padrões e normas espontâneas. Caracteriza-se por ser natural,
viabilizando à criança uma exploração do mundo exterior, quanto interior.
Através dos brinquedos algumas carências das crianças são satisfeitas, mas tais
necessidades vão progredindo no decorrer do seu desenvolvimento.
A brincadeira representa um sistema que integra a vida social da
criança, funcionando como um alimento para a personalidade que está se
constituindo. Segundo Piaget (1975) e Winnicott (1975), conceitos como jogo,
brinquedo e brincadeira são formados ao longo de nossa vivência. É a forma que
cada um utiliza para nomear o seu brincar.
O desenvolvimento da inteligência caminha célebre na educação infantil e
também nos primeiros anos do ensino fundamental. Além das mudanças biológicas
que se sucedem, o estímulo inefável de fazer novos amigos e o ambiente
desafiador da sala de aula vai promovendo alterações marcantes. A inteligência
sensório-motora salta do período de funções simbólicas – no qual a criança já
se mostra plenamente capaz de separar e reunir – organizações representativas
mais amplas e complexas. Outras inteligências desabrocham e permitem a
assimilação das próprias ações. Entre quatro e cinco anos, a criança já revela
capacidade de avaliar e enumerar o que há de comum e de diferente nos objetos
com que tem contato no dia a dia e é praticamente “assaltada” por uma onda de
mapeamentos espaciais e numéricos. Em pouco tempo, com uma rapidez que
surpreende até mesmo os mestres mais experimentados, o mundo da criança,
simbolizando por sua escola, passa a ser visto como um lugar em que se podem
contar coisas. Nessa idade, as crianças querem contar tudo, das caretas de um
desenho aos gestos diferenciados de uma dança (ANTUNES, 2004, p. 37).
Cooperação, comunicação eficaz, competição honesta e redução da
agressividade, formam algumas habilidades sociais fortificadas por meio dos
jogos. As crianças progridem com os brinquedos, é ainda através da brincadeira
que as crianças constituem o seu espaço e o diferem do lugar do outro.
Freud (1974, p. 135), reflete sobre o brinquedo:
Errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário,
leva muito a sério sua brincadeira e despende na mesma muita emoção. A
antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a
emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue
perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações
imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o
que diferencia o “ brincar “ infantil do “ fantasiar” .
Comumente parte da sociedade deduz que o brincar refere-se apenas como
tempo perdido, sem valor pedagógico algum no desenvolvimento infantil, como se
não somasse nada na vida da criança. Grandes serviços são prestados aos pais
através da brincadeira, tendo em vista, que as crianças tornam-se capazes de
interagir e compartilham momentos espontâneos e dinâmicos com os adultos do seu
âmbito social. É muito comum os pais se mobilizarem para momentos de
brincadeira, proporcionando um estado de alegria que muitas vezes foi perdido e
é reencontrado e revivido através dos filhos. Toda brincadeira gera um
significado para a criança, além de proporcionar aprendizado é uma maneira pela
qual ela apropria-se do mundo de acordo sua percepção. O brincar passa a ser
uma língua da infância sob o universo.
5. Lúdico e
Aprendizagem Infantil
O ensino é uma importante ferramenta na construção da aprendizagem. É
através da exploração que a criança expande seus pensamentos e aprendizados,
adjunto à observação e investigação do mundo. Quanto mais a criança explora as
coisas do mundo, mais ela é capaz de relacionar fatos e ideias, tirar
conclusões, ou seja, mais ela é capaz de pensar e compreender. A criança
processa o conhecimento através da exploração concreta do elemento. Ou seja, a
criança absolve qualquer tipo de informação, contribuindo assim para uma maior
carga de experiências e conhecimentos para seu desenvolvimento cognitivo.
Aprendizagem é toda atividade cujo resultado é a formação de novos
conhecimentos, habilidades, hábitos naquele que a executa, ou a aquisição de
novas qualidades nos conhecimentos, habilidades, hábitos que já possuam. O
vínculo interno que existe entre a atividade e os novos conhecimentos e
habilidades residem no fato de que, durante o processo da atividade, as ações com
os objetos e fenômenos formam as representações e conceitos desses objetos e
fenômenos (GALPERIN, 2001[d], p.85).
É por meio de uma série de fatores (emocionais, sociais, neurológicos)
que a aprendizagem se constitui, o que acaba gerando mudanças comportamentais
nos indivíduos. Aprender é o resultado da interação entre estruturas
mentais e o meio ambiente. Para Vygotsky (1984, p.103) “a aprendizagem e o
desenvolvimento estão estritamente relacionados, sendo que as crianças se
inter-relacionam com o meio objetal e social, internalizando o conhecimento
advindo de um processo de construção.” Portanto, para que ocorra
aprendizagem é preciso que uma série de fatores se interliguem. E através
da junção de vários meios (familiares, sociais, escolares) que a criança
desenvolve também a aprendizagem.
A aquisição da aprendizagem como foi dita, deriva-se de várias esferas,
dentre elas, social, cognitivo, biológico e afetivo. Assim, a família sendo a
primeira organização social à qual a criança participa, exerce um fator
importante na elaboração dos princípios e valores que vão acompanhá-los pela
sua trajetória de vida.
[...] para a psicanálise, a família é tida como as condições mínimas,
necessárias que garantem o advento de uma subjetividade. Condição essa que se refere
ao Outro. Outro no sentido de outro real imediato, dos cuidados, Outro no
sentido da linguagem, da cultura, que definirá para esse sujeito por advir o
lugar que ele ocupará (MENDONÇA, 2009, p.23).
A estrutura psíquica do individuo pode ser moldada devido aos fatores
aos quais está inserido, e as relações parentais devem ser vivenciadas de forma
dinâmica e funcional, para que a aprendizagem e o desenvolvimento normal não
seja comprometido. Ao nascer, a criança é totalmente dependente dos pais, e a
medida que vai se desenvolvendo, essa necessidade de cuidados vai sendo
diminuída, e a dependência se tornando desnecessária. Os pais precisam
respeitar as necessidades e capacidades de seus filhos, para que estes possam
desenvolver sua autonomia, mas ao mesmo tempo compartilhar todas as etapas de
desenvolvimentos de uma forma íntegra e afetiva. Contribuindo assim,
significativamente na obtenção de conhecimentos e construção de uma identidade.
[...] a família ainda é o lugar privilegiado para a promoção da educação
infantil. Embora a escola, os clubes, os companheiros e a televisão exerçam
grande influencia na formação da criança, os valores morais e os padrões de
conduta são adquiridos essencialmente através do convívio familiar (GOMIDE,
2009, p. 9).
Legitimando a importância da cultura na infância, destaca-se a escola
como um local onde são conduzidas uma série de conhecimentos que influenciam o
desenvolvimento da aprendizagem. A escola é caracterizada como uma instituição
organizada, com intuito da promoção do desenvolvimento do saber e do ensino,
além de proporcionar estabelecimento de vínculos afetivos e sociais. Onde os
métodos utilizados são variados de acordo com a idade do aluno. Portanto, a
escola, família e sociedade são responsáveis não só pela transmissão de
conhecimentos, valores, cultura, mas também pela formação da personalidade
social dos indivíduos.
A construção do conhecimento na sala de aula é um processo social e
compartilhado. A interação se dá em um contexto socialmente pautado, no qual o
sujeito participa de práticas culturalmente organizadas com ferramentas e
conteúdos culturais. As perspectivas socioculturais enfatizam a
interdependência entre os processos individuais e os sociais na construção do
conhecimento. Sua interpretação dos processos de aprendizagem fundamenta-se na
ideia de que as atividades humanas estão posicionadas em contextos culturais e
são mediadas pela linguagem e por outros sistemas simbólicos (COLL, et al 2004,
p. 105)
Os conteúdos escolares, adquiridos pela aquisição de conhecimentos e
construção de valores são constituídas também pela imagem adquirida do sujeito
no grupo social e familiar ao qual faz parte. Portanto, o meio ao qual o
individuo está inserido trata-se uma grande referência, podendo assim, interferir
na construção pedagógica já que a elaboração do saber trata-se de uma
construção conjunta, interativa e não individualmente. Ao se envolver nas
atividades escolares, a família influencia o aprendizado das crianças,
transmitindo ao filho/aluno uma maior segurança na aprendizagem. Porém, a
escola torna-se imprescindível na construção de experiências do sujeito,
constituindo exemplo de valores e atitudes positivas relacionadas ao
aprendizado. Além da transmissão de conhecimentos, a escola também é uma via de
socialização, no qual a criança convive com outras crianças, com seus
professores, sendo um espaço de trocas, ou seja, promove conhecimentos e
interações sociais, além de expandir o cognitivo.
Esse binômio, família e escola formam a base necessária para que haja
desenvolvimento integral da criança. Porém, esses pilares são construídos por
intermédio da solidificação dessa parceria com a soma de esforços de ambas as
partes.
Um dos objetivos do trabalho lúdico é o de auxiliar a criança a obter
melhor desempenho na aprendizagem através da utilização de uma metodologia
espontânea, divertida e recreativa, o lúdico age também como forma de
comunicação das crianças, tornando a aprendizagem de acordo como seu modo de vê
o mundo, respeitando suas características e raciocínios próprios.
A educação lúdica, na sua essência, além de contribuir e influenciar na
formação da criança e do adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um
enriquecimento permanente, integra-se ao mais alto espírito de uma prática
democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua
prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a
interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e
modificação do meio (ALMEIDA, 1994, p.41).
A obtenção de um melhor desempenho da aprendizagem, pode ser obtida por
meio da ludicidade. Dentre os inúmeros benefícios uma educação lúdicas, pode-se
enfatizar algumas: a melhoria da capacidade cognitiva da criança, a
potencialização da sua capacidade psicomotora, bem como, da sua capacidade de
se relacionar com seus grupos de iguais. Pode-se dizer que um dos fatores além
do genético para se obter o desenvolvimento psicossocial equilibrado do ser
humano, considera-se o brincar fundamental.
O brincar permite à criança um espaço para a resolução de problemas que
as rodeiam, conduz a relacionamentos grupais, facilita o crescimento, podendo
ser uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros. O brincar é mais
que um divertimento. Santos (1999) relata que brincando a criança ordena
o mundo à sua volta assimilando experiências e informações, e ainda mais,
incorporando comportamentos e valores. É através do brinquedo e do jogo que a
criança consegue reproduzir e recriar o meio a sua volta.
Com a era da tecnologia, os brinquedos e os jogos eletrônicos vêm
acompanhados de um manual, onde descreve todas as maneiras de brincar, para
tal, diminui o processo de imaginação, fantasia e aumenta a comodidade das
crianças, reduzindo o afloramento da criatividade. Não é desmerecendo os
avanços tecnológicos, pois estes apresentam suma importância na vida do homem,
mas o que entra em questão é o fato que esses instrumentos sejam utilizados de
maneira inteligente, sem que crie uma dependência. As crianças acabam por se
tronarem acomodadas, pois os brinquedos dispensam a imaginação, e como
consequência o resultado são crianças com mentes cada vez mais preguiçosas.
É importante salientar que o biológico e o social não se dissipam, e
dentre as atividades lúdicas proporcionam também o desenvolvimento da
coordenação motora, resistência física e habilidades. Ao brincar, as crianças
evocam a importância também dos hábitos favoráveis à saúde física. Elas
precisam utilizar o corpo, braços e pernas para descerem e subirem nas árvores,
assim, fortalecendo a musculatura no processo de crescimento dos ossos.
Na vivência de troca dos afetos e estabelecimento de vínculos por meio
das brincadeiras, a criança interage com seu ambiente e com outras crianças,
facilitando inclusive o desenvolvimento da aprendizagem, da leitura e da
escrita em seu devido tempo. Pode-se assim dizer, que o lúdico enquadra-se numa
abordagem multidisciplinar, intercalando-se numa relação cognitiva, biológica,
social e recreativa. Paiva (2009) explana à respeito da infância, que este
período está diminuindo casa vez mais, e ao mesmo tempo que a sociedade roga
pelos direitos da criança, em brincar, viver conforme seus direitos, entra uma
contradição quando os adultos não fazem à passagem ao ato para tal idealização.
A criança quando privada do brincar, dificilmente produzirá vínculos
significados com o outro e com o meio ao qual está inserida. A criança
necessita de experimentação acerca de conhecimentos, sendo esta a melhor forma
de incorporação dos mesmo.
A linguagem, segundo Vygotsky (1984), tem importante papel no
desenvolvimento cognitivo da criança à medida que sistematiza suas experiências
e a ainda colabora na organização dos processos em andamento. Muitas situações
vividas no cotidiano das crianças são reproduzidas na brincadeira, as quais,
pela imaginação e pelo faz-de-conta são reelaboradas. O jogo é crucial para o
desenvolvimento cognitivo, pois é o processo de criar situações imaginárias,
leva ao desenvolvimento do pensamento abstrato. Isso acontece porque novos relacionamentos
são criados no jogo entre significados e objetos e ações.
A introdução do lúdico na vida escolar do educando torna-se uma forma
eficaz de repassar pelo universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto.
Promover uma alfabetização significativa a prática educacional é a proposta do
lúdico. Através das atividades lúdicas na escola, de acordo Luckesi (2000,
p.21) pode-se “auxiliar o educando a ir para o centro de si mesmo, para a sua
confiança interna e externa; não é, também, difícil, coisa tão especial
estimulá-lo à ação, como também ao pensar”.
O jogo apresenta sempre duas funções no processo de ensino-aprendizagem.
A primeira é lúdica, onde a criança encontra o prazer e a satisfação no jogar,
e a segunda é educativa, onde através do jogo a criança é educada para a
convivência social, já que o mundo à qual faz parte possui leis e regras as
quais precisam ser conhecidas e internalizadas. A criança estando em um
constante processo de desenvolvimento, ela brinca, porque a brincadeira propõe
subsídios a se desenvolver .
É importante ressaltar, que a motivação do educador escolar para
proporcionar a atividade lúdica é fundamental para que o aluno possa despertar
o interesse para criar, desenvolver, participar, buscando a construção do
conhecimento. O desenvolvimento lúdico nas práticas pedagógicas na escola, não
deve ser visto apenas como descontração, mas sim, como meio para o
desenvolvimento do aprimoramento do raciocínio lógico, cognitivo e social de
maneira espontânea e prazerosa para a criança. Os adultos enquanto educadores
devem ter cautela no que expõem para as crianças, pois uma das ferramentas da
aprendizagem infantil é a repetição.
A criança quando não brinca, acarreta uma série de perturbações, dentre
as quais, não se socializa com o outro, torna-se agressiva, impossibilitando
novos conhecimentos e alcance de objetivos. A ausência do lúdico na infância,
permeia o aparecimento de alguns fatores, como inabilidade social,
comprometimento nas estruturas psíquicas e/ou psicológicas na infância.
A educação por meio do lúdico possibilita um favorável crescimento da criança,
investindo numa elaboração íntegra do conhecimento infantil. Enquanto joga e
brinca, podem ser recriados conceitos cotidianos, compreendendo, encenando,
reelaborando a realidade, contribuindo assim para uma maneira melhor de se
relacionar com o outro e desenvolvendo sua identidade e autonomia.
O lúdico como método pedagógico prioriza a liberdade de expressão e
criação. Por meio dessa ferramenta, a criança aprende de uma forma menos
rígida, mais tranquila e prazerosa, possibilitando o alcance dos mais diversos
níveis do desenvolvimento. Cabe assim, uma estimulação por parte do
adulto/professor para a criação de ambiente que favoreça a propagação do
desenvolvimento infantil, por intermédio da ludicidade.
6. Considerações
Finais
No transcorrer desse trabalho difundiu-se ideias a respeito da
importância do lúdico no processo de ensino aprendizagem infantil, desvelando
que a ludicidade é um grande laboratório para o desenvolvimento integral da
criança, que merece atenção dos pais e dos educadores, pois é através das
brincadeiras que a criança descobre a si mesmo e o outro.
O ser humano passa por constantes evoluções, resultando numa construção
de uma série de processos que se interligam (biológicos, intelectuais, sociais
e culturais). O desenvolvimento cognitivo perpassa por uma série de períodos,
atrelados por mudanças tanto no plano qualitativo, quanto no quantitativo à
cada estágio vivenciado. O que permite ao sujeito uma construção e reconstrução
a cada estrutura, tornando-o mais apto ao equilíbrio. Cabe aqui ressaltar, que
o desenvolvimento de cada ser humano, varia de acordo com os fatores internos
(biológico) e externos aos quais estão inseridos.
Devido o mundo real ser de uma difícil assimilação, a criança cria seu
próprio universo, mais conhecido como as fantasias infantis. Nesse universo
inventado, elas fazem um paralelo do imaginário com a realidade, e através de
seus personagens imaginativos encontram resoluções para qualquer situação. Por
meio do simbólico, os desejos e vontades são explicitados, além de permitir que
a criança exponha e elabore também seus conflitos e angústias do mundo real.
O lúdico viabiliza uma série de aprimoramentos em diversos âmbitos dos
desenvolvimentos, cognitivo, motor, social e afetivo. Através do brincar
a criança inventa, descobre, experimenta, adquire habilidades, desenvolve a
criatividade, auto confiança, autonomia, expande o desenvolvimento da
linguagem, pensamento e atenção. Por meio de sua dinamicidade, o lúdico
proporciona além de situações prazerosas, o surgimento de comportamentos e
assimilação de regras sociais. Ajuda a desenvolver seu intelecto, tornando
claras suas emoções, angústias, ansiedades, reconhecendo suas dificuldades,
proporcionando assim soluções e promovendo um enriquecimento na vida interior da
criança.
Verificou-se que a atividade lúdica fornece uma evolução nas funções das
habilidades psíquicas, da personalidade e da educação. Por meio dos jogos e
brincadeiras a criança aprende a controlar os seus impulsos, a esperar,
respeitar regras, aumenta sua autoestima e independência, servindo também para
aliviar tensões e diminuir frustrações, pois através do brincar a criança
reproduz situações vividas no seu habitual, reelaborando através dos faz
de conta.
A utilização de jogos e brincadeiras no meio educacional propicia as
crianças o aprimoramento de diversos conhecimentos de forma lúdica. Aos
educadores, estes além de estarem motivados também com o lúdico, é preciso um
conhecimento mais elaborado acerca do tema, para poder intervir nas brincadeiras
das crianças. Contudo, faz-se necessário auxiliar a criança, de maneira sutil,
para que brinque com diversos tipos de brinquedos.
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