Muito antes de Renata e Carlos serem mortos, o pintor Jorge Luiz Morais de Oliveira havia se encontrado com um porteiro e um marceneiro. O primeiro levou cinco tiros e, o outro, golpes de taco de sinuca. Os crimes aconteceram nos anos de 1994 e 1995, ambos por volta das 19h de um sábado em ruas em um raio de 1 km de onde a polícia localizou seis corpos nesta semana. Pelos dois assassinatos, ele já cumpriu pena de 19 anos. Todas as informações foram retiradas dos processos já arquivados pela Justiça e obtidos pelo G1.
Desde sexta-feira (25), o pintor está preso e confessou ter matado um homem e cinco mulheres na Favela Alba, no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo. O assassino em série foi descoberto após uma denúncia anônima que levou a polícia a localizar o corpo de Carlos Neto Alves de Matos Júnior, de 21 anos, em um cômodo da casa de Oliveira. Peritos encontraram mais cinco corpos enterrados na residência, entre eles o de Renata Christina Pedrosa Moreira, de 33 anos.
O porteiro A.R.S., de 22 anos, foi a primeira vítima conhecida pela polícia (os nomes dos primeiros assassinados serão resguardados a pedido do Tribunal de Justiça de São Paulo). No dia 26 de fevereiro de 1994, um sábado, por volta das 19h, o homem estava na companhia de uns amigos na Rua Celina de Barros Silveira, a 400 metros da casa de Oliveira.
Segundo boletim de ocorrência registrado à época, o porteiro “teria dirigido gracejos a uma tal de Joice”, prima de um amigo do pintor. Apesar de atualmente a polícia não afirmar se Oliveira praticava os crimes em parceria com outras pessoas, ele teve ajuda do colega nesta primeira vez.
Joice era menor de idade. No processo, testemunhas dizem que A.R.S. passou a mão na cabeça da menina. Outros disseram à polícia que a primeira vítima de Oliveira, na verdade, teria abusado sexualmente da adolescente. O primo da garota ficou com raiva de como mexeram com a menina e o ameaçou com uma arma. Quem teve coragem de atirar, no entanto, foi o pintor, que fez ao menos cinco disparos.
Oliveira assumiu o assassinato sendo réu primário e foi condenado a quatro anos de prisão. Defendeu-se dizendo que a vítima estaria com uma faca, mas confessou o crime. “As testemunhas presenciais ouvidas por requerimento ministerial, em uníssono e com importante coerência, confirmaram ter sido ele o autor dos disparos que alvejaram o ofendido, afastando a suposta legítima defesa, assim como alegações mentirosas quanta à anterior conduta da vítima fatal”, disse a conclusão do processo na época.
Taco de sinuca
Quase 1 ano e 3 meses depois, no dia 13 de maio de 1995, às 19h25, Oliveira ainda estava solto e aguardava julgamento. Ele entrou no bar do “Toninho”, na Rua Alberto Sampaio, a 1 km da casa onde os corpos foram encontrados nesta semana.
O marceneiro N.J.V.S., de 32 anos, conhecido como "Coquinho", estava num bar com um amigo. Segundo testemunhas, o pintor entrou no estabelecimento e, com uma “gravata”, arrastou a vítima por dois quarteirões. Ele quebrou um dos tacos da sinuca do bar e “furou” o rosto do marceneiro, segundo o laudo. Depois, ainda jogou uma pedra grande, uma espécie da paralelepípedo, na cabeça da vítima. O homem morreu no meio da rua.
Oliveira disse que matou porque "Coquinho" tinha roubado uma bicicleta e a sua casa. Na época, vizinhos descreveram o pintor “como pessoa perigosa no bairro”. Uma das testemunhas procurou a polícia dizendo ter sofrido ameaças de morte. Por este homicídio ele foi condenado a 16 anos de prisão.
O pintor ficou 17 anos e 9 meses preso e, no período, se envolveu em uma rebelião. Ele também respondeu criminalmente por sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha. Oliveira foi posto em liberdade em 7 de novembro de 2013.
Após a divulgação de sua foto na imprensa, duas pessoas procuraram a polícia e disseram ter sido vítimas de outros crimes cometidos pelo pintor. Segundo o delegado Jorge Carrasco, uma delas disse ter sido estuprada e a outra, roubada. Os casos também serão investigados.
Vítimas de 2015
Até a manhã deste sábado (3), a polícia identificou apenas dois dos seis corpos achados na casa do pintor. Segundo seu advogado, André Nino, o homem alegou que, nos crimes atuais, agiu sob efeito de drogas e que está arrependido.
O defensor acrescentou que Oliveira é "uma pessoa que está consumida pela droga". Veja, abaixo, quem são as pessoas que foram assassinadas pelo homem e as que a polícia acredita que ele tenha matado.
VÍTIMAS IDENTIFICADAS
Carlos Neto Alves Júnior
Vizinho do suspeito, o jovem de 21 anos morreu na noite de 23 de setembro, uma quarta-feira, na residência do pintor, na Rua Professor Francisco Emídio da Fonseca. Júnior era homossexual e estava aposentado por conta de uma surdez de nascença.
O suspeito alega legítima defesa. Ele disse que o vizinho, acompanhado de outro jovem, entrou em sua casa com uma faca na mão.
Após uma discussão, a vítima o teria esfaqueado no braço, mas ele conseguiu tomar sua faca e o atacou. O rapaz que estava com o jovem teria fugido durante a briga.
A polícia chegou ao imóvel após uma denúncia e localizou o corpo de Júnior em um cômodo.
Renata Christina Pedrosa Moreira
Estudante carioca de 33 anos, Renata era, segundo sua mãe, usuária de drogas e costumava ir até a favela para comprar entorpecentes. Ela estava desaparecida havia nove meses. O último sinal de seu celular dela foi registrado na região em janeiro deste ano.
A identificação ocorreu na quinta-feira (1º), após a companheira da vítima entregar à Polícia Técnico-Científica 27 radiografias de Renata. “Ela tinha uma placa de titânio no úmero e na clavícula e eu entreguei isso para o IML”, disse Louise Cerdeira. Apesar de Renata e Júnior serem homossexuais, o advogado do suspeito nega que os crimes cometidos por seu cliente tenham sido motivados por homofobia.
OUTRAS POSSÍVEIS VÍTIMAS
Andréia Gonçalves Leão
“Baianinha”, como também era chamada, morava na mesma favela do pintor. Ao ser apresentado à foto da jovem de 20 anos, ele confessou sua morte. O homem, porém, não ligou o nome dela à imagem, segundo a polícia.
Paloma Aparecida dos Santos
A mulher de 21 anos, também moradora da região, foi outra a ser reconhecida pelo pintor por foto. Familiares da jovem identificaram um celular encontrado na casa do suspeito como sendo dela. O advogado André Nino, que defende o acusado, afirmou que seu cliente alega que comprou o aparelho.
Segundo o delegado Edilzo Correia de Lima, do 16º Distrito Policial da capital paulista, Paloma também é homossexual e usuária de drogas. Apesar de estar desaparecida havia meses, sua família ainda não havia registrado boletim de ocorrência. Para a polícia, o fato indica que ela tinha o costume de sumir sem dar notícias.
Natasha Silva Santos
Para ajudar na identificação dos corpos, a polícia busca parentes de cerca de 30 pessoas que desapareceram na região do Jabaquara, entre elas a vendedora de livros Natasha. Ao contrário das outras duas jovens citadas acima, ela não foi reconhecida pelo pintor.
Segundo familiares, Natasha entregava livros didáticos a crianças e adolescentes da favela quando desapareceu em julho. Uma amiga da vendedora, no entanto, afirmou em depoimento que a jovem foi até a casa de Jorge para comprar maconha. Parentes negam que a jovem estivesse na Favela Alba para comprar drogas. O pintor nega ser traficante.
Kelvin Dondoni
O jovem de 23 anos desapareceu há quatro meses na região da Favela Alba. Sua mãe, Maria de Fátima Dondoni, disse, segundo a polícia, que ele trabalhava com um primo na prestação de serviços e era usuário de drogas.
De acordo com a mulher, Kelvin cortava o cabelo no local e também tinha diversos amigos na região. Ela foi à delegacia na terça-feira (29) em busca de informações do filho e reconheceu algumas das roupas apreendidas na casa do pintor.
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