O Ministério da Saúde (MS) anunciou, na terça-feira (9), uma nova campanha de vacinação contra a febre amarela, que, após viver no ano passado seu maior surto no Brasil desde 1980, dá indícios de que voltará a se espalhar pelo país neste verão. Entre fevereiro e março deste ano, 24,4 milhões de pessoas de 75 municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, devem ser vacinadas.
Com o aumento das áreas de recomendação da vacina, o governo brasileiro decidiu reduzir de 0,5 ml para 0,1 ml sua dose padrão, que desde 2014 é considerada dose única (com duração por toda a vida) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em pronunciamento oficial, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que o fracionamento é seguro, mas emergencial. "Fracionaremos a vacina para garantir cobertura rápida em curto período de tempo", disse.
Com durabilidade de oito anos, a vacina fracionada terá um selo diferenciado, para que no futuro seja exigida uma dose de reforço. No entanto, algumas críticas consideram a decisão pela redução da dose – medida já aplicada em países como Angola e Congo –, como sendo resultado da falta de planejamento do governo.
De acordo com o médico infectologista José Valdez Ramalho Madruga, para que o governo brasileiro vacinasse com a dose padrão todas as pessoas que vivem nas regiões afetadas, a quantidade de vacina necessária seria equivalente a um terço de toda a produção mundial. Por esse motivo, ele destaca que a dose fracionada é uma solução, mas com exceções.
"Ela pode ser utilizada nessas situações de surto, mas precisamos fazer uma ressalva: algumas situações específicas precisam da dose plena, como as pessoas que têm infecção pelo vírus do HIV ou alguma outra doença imunológica, crianças abaixo de dois anos e gestantes", explicou.
Madruga ressalta ainda que a dose fracionada da vacina não está sendo aceita para viagens internacionais. Nesse caso, a pessoa pode levar para os postos de saúde um comprovante de que viajará para algum país que peçam o atestado da vacina, e então poderá tomar a dose completa. A imunização deve ser feita em até dez dias antes da viagem, seja para o exterior, seja para as áreas de risco dentro do Brasil.
Contexto
Em outubro de 2017, mais de 26 parques foram fechados em São Paulo, após serem encontrados macacos mortos pelo vírus da febre amarela. Os primatas são os principais hospedeiros do vírus, que é transmitido aos seres humanos através de mosquitos silvestres, principalmente o Haemagogus e o Sabethes. O ciclo de transmissão urbano, que tem como principal vetor de transmissão o mosquito Aedes Aegypti, não é registrado no Brasil desde 1942. Por esse motivo, a febre amarela é mais comum em áreas rurais e de mata, onde ocorre o ciclo silvestre.
O médico infectologista e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Gerson Salvador ressalta que "os casos de febre amarela documentados no Brasil até agora foram de transmissão silvestre,. Não tivemos confirmação de casos transmitidos pelo ciclo urbano. Isso é uma informação importante, porque as pessoas vão precisar ser imunizadas com orientação da Vigilância Sanitária, mas sem pânico, porque o pânico acaba atrapalhando as próprias campanhas de imunização".
No entanto, ao longo dos anos, o mapa das regiões recomendadas de vacinação no país foi se ampliando. Em 1997, segundo dados do Ministério da Saúde, a maior parte dos estados do Nordeste, do Sudeste e do Sul não era afetada pelo vírus. Mas entre dezembro de 2016 e agosto de 2017 foram confirmados 777 casos e 261 óbitos pela doença. O sudeste concentrou a grande maioria dos casos: 764 confirmados.
Nos últimos meses, 11 novos casos foram confirmados: oito deles em São Paulo, um em Minas Gerais, um no Rio de Janeiro e um no Distrito Federal. Quatro pessoas morreram e outros 92 casos estão em investigação. Apenas na terça-feira (9), três mortes foram confirmadas no interior de São Paulo: duas em Atibaia e uma em Jarinu.
Sintomas
A febre amarela causa sintomas genéricos como dor de cabeça, febre baixa, fraqueza, vômitos, dores musculares e nas articulações. Entretanto, sua principal especificidade, é a icterícia, definida como a presença de uma cor amarelada na pele, nas membranas mucosas (como o interior do nariz e da boca) ou nos olhos. Em sua fase mais grave, a doença pode causar inflamação no fígado e nos rins, hemorragias e levar à morte.
Tratamento
O tratamento da doença é apenas de amenização dos sintomas, através do uso de antitérmicos e analgésicos. Em estágios graves, há a hospitalização para reposição de líquidos e perdas sanguíneas.
Prevenção
Para a prevenção da doença, a vacina é recomendada para crianças a partir de nove meses, e pode ser encontrada nas unidades públicas de saúde, com dose gratuita. O aumento da demanda, entretanto, provocou a falta em alguns postos. Na rede privada, as doses podem chegar a cerca de R$250.
Exceção
A vacina não pode ser tomada por bebês menores de seis meses, mulheres que amamentam crianças até essa idade e por pessoas alérgicas a ovo. Além disso, testes já mostraram que os maiores de 60 anos têm maior risco de sofrer efeitos colaterais graves na primeira vacinação, e devem procurar um médico antes de receber a dose.
Para essas exceções e a população em geral, a doença também pode ser prevenida por meio do uso de repelentes, do uso de roupas compridas e claras em regiões de mata, de mosquiteiros e telas. Para controle da proliferação do mosquito, é essencial evitar água parada.
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