Amor não é virtual. Nunca. Amor é real. Eu sinto. É meu. Virtual é a paquera, o namoro, até o sexo. Se é pela internet, é virtual. Mas o amor é real. E sim, dói e anda pegando as pessoas pelo pé.
Você está ali desligada, olho fixo na telinha. Na ingênua intenção de piadas e fofocas. Alguém te add. Você não conhece. Dá uma investigada básica na página da criatura. Não vê problema. Aceita.
O moço cumprimenta, puxa assunto. Tecla vai, tecla vem, vão se aproximando. Descobrem afinidades. Desvendam qualidades. Um assunto puxa o outro e o papo rola fácil.
O virtual tem a vantagem, ou desvantagem do desconhecimento. Podem mentir sobre tudo o que quiserem. Fugir quando o papo rumar por becos nos quais você não quer entrar. Ou quando o assunto ficar esquisito. Se simplesmente não quiser responder pode dizer que caiu a internet, a mãe chamou, tem que ir tomar café, estão tocando a campainha. Já volta com uma pergunta boa para mudar de assunto.
Precisa de tempo para responder perguntas mais perigosas? Respostas inteligentes com direito a ensaio e delete ? Internet é a salvação do mundo amoroso! Mau hálito, suores, puns, barba por fazer, celulites, cabelo sebento pedindo lavagem, pernas não depiladas? Nada será visto, nem cheirado! De longe, vamos combinar, todo mundo é lindão! A distância nos deixa ótimos.
Namoro virtual é para fracos? É coisa de mané cair em papo furado de internet? Posso garantir: não é. A cada dia escuto uma história nova no consultório. Umas histórias que estão caminhando bem e outras que fazem um estrago danado.
Na verdade, independente de estar ou não acompanhado, muitas das vezes a gente está muito mais carente do que imagina. O corre-corre da vida desbota, a rotina empoeira. A pessoa segue . E só se dá conta disso quando, animada, percebe o coração bater mais rápido. Aí não dá tempo e nem vontade de fugir.
Uma pessoa a milhas e milhas de você, que mal pode te fazer? Conversas virtuais parecem inocentes. Só que não. Acontece que a coisa vicia. Você começa a sentir falta. Espera o contato quase aflita. Não consegue mais ficar relaxada olhando fofocas e piadas. O olho no controle das mensagens que não chegam.
Nada é pior do que ver que a pessoa está lá , online, e não te chama nem para um oi. Dói? Dói porque você vê acontecer. E nesse ponto não há diferença de ver pessoalmente ou virtualmente. Rejeição é rejeição, você sente na pele. É sempre real. Isso não muda.
Dúvidas perturbam. Algumas atrapalham e muito a sua vida. Você não sabe se as palavras que pulam na sua tela são verdadeiras. Se forem, vêm outras questões: são verdadeiras por vocês estarem longe e não se conhecerem de verdade? Ao nu e a cores com defeitos e remendos, rolava do mesmo jeito?
De repente sim, rolava legal. Pode acontecer, e acontece mesmo das pessoas irem se conhecendo e se gostando. Vão trançando almas. E quando se encontram, já se gostam. Questões físicas já não ocupam o primeiro lugar porque o desejo é de continuar junto. Detalhes que excluiriam de cara aquela pessoa, agora podem ser aceitos. Até queridos. Fazem parte do combo. É mais difícil descartar quando se gosta.
Mas as dúvidas, em geral, permanecem e atormentam. Ele tecla falando de todo o seu amor. Para quantas exatamente? Será que fala só para você? Ou tem as mesmas palavras para todas? Copia e cola para não ter trabalho? Respostas que você jamais saberá. A não ser que, por descuido, ele poste errado. Postagem errada é pior que batom na cueca. Dedura mesmo.
E as curtidas? Os compartilhamentos? O que querem dizer? Ele posta uma música de amor. Quando você olha, seis já curtiram na sua frente. Curtiram porque acham que é para elas? Ele diz que são amigas. São? Em off, nos chats rola uma vida subterrânea que a gente nem imagina.
O virtual é mais confortável. Não te arranca da zona de conforto. O namoro vai desenrolando e você nem sai do lugar. Tem suas vantagens? Claro. Mas perde o olho no olho. Daqueles que dá até tonteira.
Perde o cheiro que a pessoa deixa só de passar. E que , atiçada a gente disfarça e segue. Perde o toque de pele. Até uma cantada bem dada. Cantada com cheiro e olho no olho. E olha que uma cantada bem dada tem seu lugar. Pode valer a pena tirar o pó da alma. Se arriscar. Sair por aí para ver qual é.
Namoros podem ser virtuais. E crescem a cada dia. Mas amor, saudade, ciúme, rejeição são reais e doem. Não tem delete que resolva. Depois de clicado na alma, postado no coração, já era. Pense bem antes do Enter.
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