A saúde da mulher é uma preocupação antiga, mas a situação da população feminina no país demonstra que o desenvolvimento da área ainda é uma necessidade.
Atualmente, um dos grandes méritos dos profissionais e serviços de saúde tem sido a ampliação não só do acesso à assistência, mas também da qualidade desse trabalho, garantindo cada vez mais que a paciente seja considerada como um todo.
Para que esse atendimento da Medicina, Enfermagem e demais áreas se desenvolva ainda mais, é importante que o profissional de saúde esteja ciente da realidade desse público e do que pode ser feito para mudá-la.
História da Saúde da Mulher
A saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX e considerada prioritária no decorrer da história da área no Brasil. Mesmo antes da concepção do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil foi contemplado em 1983 com o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Porém, apesar da priorização da saúde da mulher nas políticas brasileiras, foram preconizadas as ações materno-infantis, ou seja, a assistência era prestada fundamentalmente no período da gravidez, parto e pós- parto.
Nos programas iniciais, a atenção à saúde da mulher era restrita, não visualizando a paciente na sua totalidade, mas apenas como “a mãe”, “a esposa” ou “a grávida”. Por isso, questões não relacionadas à gravidez, ao parto e ao cuidado dos filhos eram relegadas ao segundo plano.
Somente em 2004, com a Política Nacional de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), houve a inclusão da assistência a grupos até então esquecidos nas políticas de saúde da mulher no Brasil como as mulheres negras, trabalhadoras rurais, lésbicas, profissionais do sexo, presidiárias, indígenas, adolescentes, vítimas de violência sexual e de abortamento em condições inseguras. A nova política trouxe também para a discussão a necessidade da reorganização de ações definidas no PAISM no início da década de 80, a saber: climatério, planejamento familiar, prevenção do câncer do colo uterino e de mama, doenças sexualmente transmissíveis e promoção da atenção obstétrica humanizada sem riscos à saúde da mulher e do bebê.
Posteriormente, algumas dessas ações foram desdobradas em políticas e programas específicos como os de assistência à mulher em situação de abortamento, mulher vítima de violência e à saúde da mulher negra. A necessidade da qualificação e humanização da saúde reprodutiva das mulheres volta a ser priorizada em 2011 pelo Ministério da Saúde através da “Rede Cegonha”.
Apesar dos avanços das políticas de saúde da mulher no Brasil e dos esforços dispensados para concretização das propostas elaboradas, ainda há um grande caminho a percorrer. Alguns objetivos do PAISM e da PNAISM não foram alcançados. As dificuldades em concretizar essas políticas estão diretamente relacionadas a não compreensão e/ou valorização por parte dos gestores de saúde e a não incorporação pelos profissionais de saúde do conjunto de ações possíveis para uma assistência integral e não somente voltada para o período gravídico puerperal.
Por que é importante contribuir para a Saúde da Mulher atualmente?
As mulheres representam a maioria da população brasileira (51,2%) e em Minas Gerais a proporção de mulher/homem chega a alcançar sete mulheres para um homem. Elas continuam sendo a maior clientela do SUS, seja para cuidar da própria saúde ou para buscar assistência à familiares.
Elas ainda possuem maior expectativa de vida que os homens e estão sujeitas às patologias específicas da sua fisiologia como câncer do colo uterino e de mama, além do adoecimento relacionado à persistência das desigualdades de gênero. Outro fator muito importante que justifica um atendimento especializado é a morbidade e mortalidade por questões relacionadas à gravidez, parto e pós-parto.
Como enfermeira obstetra e coordenadora da pós de Enfermagem em Obstetrícia, o papel do enfermeiro em empoderar mulheres.
E no processo de gestação, existem algumas adversidades principais enfrentadas pelas mulheres:
Mortalidade infantil: Mesmo considerando a redução importante da mortalidade infantil no Brasil nas últimas décadas, os indicadores de óbitos neonatais apresentaram uma velocidade de queda abaixo do esperado. Um número expressivo de mortes ainda faz parte da realidade social e sanitária de nosso País. Tais mortes ainda ocorrem por causas evitáveis, principalmente no que diz respeito às ações dos serviços de saúde e, entre elas, a atenção pré-natal, ao parto e ao recém-nascido (Brasil, 2012).
Mortalidade materna: A mortalidade materna é hoje considerada como uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável em 92% dos casos e por ocorrer principalmente nos países em desenvolvimento. Os índices de mortalidade materna nos países em desenvolvimento são alarmantes (CPMM/JF/MG, 2014).
Assistência ao parto: A pesquisa Nascer no Brasil (2014) evidenciou dados assombrosos em relação à assistência ao ciclo gravídico puerperal no país. Em relação à assistência pré-natal, apesar da excelente cobertura (99%), 39% das mulheres iniciam pré-natal após 12 semanas e 27% realizam menos de seis consultas. Em relação à assistência ao parto, 52% das crianças nascem por partos cirúrgicos no país e na rede pública a cesariana chega a 46% , enquanto no setor privado os números atingem 88%. O parto vaginal, apesar de mais frequente na rede pública, quase sempre ocorre com muita dor e excesso de intervenções como episiotomia, amniotomia, uso rotineiro de ocitocina e outros.
Acesso ao atendimento: Outro problema é o acesso ao atendimento, pois as mulheres continuam a perambular a procura de lugar para admissão no momento do parto. A pesquisa evidenciou que 16% das grávidas passam por dois ou mais hospitais para conseguirem internação. Diante da situação obstétrica no Brasil, é imprescindível a formação de profissionais que contribuam para a reversão desse quadro; que ajudem a aumentar o número de partos vaginais através da realização de pré- natal de qualidade e do empoderamento das mulheres; saibam identificar riscos obstétricos; atuar com base na obstetrícia baseada em evidências e, consequentemente, consigam reduzir a morbimortalidade materna e neonatal.
Como contribuir para a Saúde da Mulher como profissional de saúde?
A principal contribuição do profissional de saúde para o atendimento da população feminina é prestar diariamente uma assistência humana e que considera os diferentes perfis de mulheres e suas necessidades. Seja você um enfermeiro, médico, educador físico, fisioterapeuta ou qualquer outro profissional da área, a mudança dessa realidade nacional que infelizmente perdura começa na qualidade de cada atendimento que, por fim, terá resultados nos serviços de saúde disponíveis.
A falta de acesso à informação sobre os estágios do parto, cuidados necessários e possibilidades de atendimento também é um problema no país. Por isso, a dedicação do profissional de saúde em esclarecer as dúvidas da mulher é tão importante para garantir que o parto seja um momento especial na vida da paciente.
Nesses encontros mensais e gratuitos que tenho a alegria de conduzir juntamente com o professor Edson Rosa, as grávidas, seus familiares e convidados tiram dúvidas sobre os diversos aspectos da gestação.
Considerando que há o acompanhamento de alunos da pós, essa é uma forma de auxiliar essas mulheres e, ao mesmo tempo, desenvolver profissionais capacitados que se preocupam com o atendimento humanizado.
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