Brasília - Dizendo-se indignado, o candidato do PMDB à
Presidência da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), convocou os
jornalistas nesta terça-feira, 20, em Brasília, para denunciar o que
chamou de mais uma tentativa de "alopragem" contra sua candidatura. O
peemedebista apresentou uma gravação na qual dois homens conversam e um
deles reclama de ter sido "esquecido" por Cunha. O deputado informou
ainda que entregou um requerimento ao Ministério da Justiça solicitando a
abertura de inquérito policial para apurar a veracidade da gravação.
Cunha
contou que foi procurado no sábado, em seu escritório no Rio de
Janeiro, por um suposto policial federal portando cópia de uma suposta
gravação telefônica. Segundo o peemedebista, esse homem disse que a
cúpula da Polícia Federal estaria orquestrando uma "montagem" para
envolvê-lo em denúncias, de forma a prejudicar sua campanha ao comando
da Câmara.
No áudio
divulgado pelo candidato, um dos homens reclama que Cunha está "se dando
bem", pois será presidente da Câmara, mas que o Ministério Público está
pressionando e que não segurará a denúncia, e que isso jogará "a merda
no ventilador". "Os amigos dele estão sendo esquecidos", ataca o
interlocutor. No diálogo quase teatral, o suposto "aliado" de Cunha diz
que não será abandonado e que não ficará sem dinheiro.
Apesar
de negar preocupação com os reflexos do episódio em sua candidatura,
Cunha disse que chamou a imprensa para expor a situação à opinião
pública. "Toda semana tem um tipo de constrangimento", protestou o
deputado. Ele afirmou que procurou o vice-presidente da República,
Michel Temer, que por sua vez recomendou notificação ao ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo. De férias em Madri, Cardozo pediu que o
requerimento fosse protocolado no Ministério da Justiça.
O
candidato disse não reconhecer as vozes que aparecem na gravação e não
soube dizer se uma delas seria do policial federal Jayme Alves de
Oliveira Filho, o "Careca". A investigadores da Operação Lava Jato, que
apura as denúncias de desvios na Petrobrás, Jayme disse ter levado
dinheiro a uma casa que, de acordo com o Youssef, seria de Cunha. Dois
meses depois, no começo deste mês, a defesa do policial apresentou uma
retificação do depoimento, em que era informado outro endereço e dizia
não ser possível indicar quem era o dono do imóvel. Quando o caso foi
revelado, Cunha se disse vítima de "alopragem" de interessados em
prejudicar sua candidatura à Presidência da Câmara.
Além
do agente da PF, Alberto Youssef também citou a participação de Cunha
no esquema de pagamentos de propina com recursos da Petrobrás. O
depoimento do doleiro, contudo, foi feito em delação premiada e está sob
sigilo de Justiça. Também em janeiro, no entanto, o advogado de Youssef
convocou a imprensa para dizer que o doleiro desconhece Cunha. O
parlamentar nega que tenha recebido dinheiro do esquema.
O
peemedebista afirmou que buscará o esclarecimento "cabal" e voltou a
criticar a interferência do Palácio do Planalto na eleição do
Legislativo. De acordo com ele, deputados relataram nos últimos dias que
foram procurados pelo governo com a promessa de que seriam contemplados
com cargos no segundo escalão caso abandonassem sua candidatura.
Embora
o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, tenha dito nesta
manhã que uma nova Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da
Petrobrás é "instrumento da oposição" e que o apoio de Cunha à
instalação da comissão "não contribui com uma boa relação" com o
Executivo, o candidato peemedebista à presidência da Câmara voltou a
repetir que seu partido apoiará a criação da comissão. "O PMDB
continuará assinando os requerimentos".