Imagem divulgada pelo jornal francês "Le Monde" mostra
como o escritório da revista satírica "Charlie Hebdo" ficou após o
ataque que matou 12 pessoas
Stéphane
Charbonnier estava empoleirado, como de costume em todas as manhãs de
quarta-feira, em uma mesa de madeira em forma de U no segundo andar da Redação
parisiense cheia de luz do jornal satírico francês que ele comandava, o
"Charlie Hebdo", com uma série de jornais espalhados diante dele.
Era por volta das 11h30 e cerca de uma dúzia de jornalistas, incluindo os
principais cartunistas do jornal, se juntou a ele para a reunião semanal
regular para discutir os artigos que apareceriam na próxima edição. O dia deles
já tinha sido produtivo: menos de duas horas antes, os editores publicaram um
tweet de sua mais recente charge provocadora, um desenho de Abu Bakr
al-Baghdadi, o líder do Estado Islâmico, desejando ao seu público um Feliz
Ano-Novo e, "acima de tudo, boa saúde!".
Sem que soubessem, uma cena de terror estava transcorrendo à sua porta –uma que
chamaria a atenção do mundo e provocaria novos temores por toda a Europa a
respeito de um crescente choque de civilizações, entre os radicais islâmicos e
o Ocidente.
Corinne Rey, uma cartunista conhecida como Coco, tinha acabado de pegar sua
filha pequena na escola e estava digitando um código de segurança para entrar
no prédio quando dois homens em trajes pretos, armados com metralhadoras
automáticas AK-47, a agarraram e a forçaram brutalmente a abrir a porta.
"Eles queriam entrar e subir", ela disse posteriormente à revista
francesa "L'Humanité".
Empurrada para dentro, Coco disse que se refugiou sob uma mesa enquanto os
homens entravam no saguão e seguiam para o balcão da recepção, onde um
segurança que trabalhava ali havia 15 anos, Frédéric Boisseau, estava sentado.
Segundo uma testemunha citada na imprensa francesa, os assassinos abriram fogo,
matando Boisseau e disparando tantas vezes no saguão que algumas pessoas
acharam que se tratava da queda de um andaime.
Momentos depois, segundo testemunhas, os homens subiram correndo as escadas,
com suas metralhadoras prontas, e seguiram para a sala de reunião.
"Onde está Charb? Onde está Charb?", eles gritavam, usando o apelido
amplamente conhecido de Charbonnier. Ao avistarem seu alvo, um homem magro de
óculos, os homens miraram e atiraram.
Então, disseram as testemunhas, eles mataram os principais cartunistas do
jornal que estavam sentados, paralisados. Depois massacraram quase todas as
demais pessoas na sala em uma rajada de fogo.
"Durou cerca de cinco minutos", disse Coco, abalada e com medo.
"Eles falavam francês perfeitamente e alegavam ser da Al-Qaeda."
Sigolène Vinson, uma free-lancer que decidiu vir naquela manhã para participar
da reunião de pauta, achou que seria morta quando um dos homens a abordou.
Em vez disso, ela contou à imprensa francesa, o homem disse: "Eu não vou
matar você, porque você é uma mulher, nós não matamos mulheres, mas você deve
se converter ao Islã, ler o Alcorão e se cobrir", ela lembrou.
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