Após uma semana da cirurgia em que Sofia Gonçalves de Lacerda, de um ano e três meses, foi submetida para a troca de cinco órgãos, a mãe da menina, Patrícia de Lacerda, contou aoG1 nesta sexta-feira (17) que a menina já está aprendendo a fazer coisas comuns do dia a dia de muitas crianças, que antes era incapaz por causa da síndrome de Berdon - que afetou todo o seu sistema digestivo. O bebê agora aprende, por exemplo, a comer e até mesmo arrotar. "Às vezes ela chora por estar sentindo coisas novas no seu organismo. Isso é causado pelos alimentos, coisa que ela não conhecia. Ela sente que algo está acontecendo na barriguinha dela e fica com medo", comenta a mãe, que gravou um vídeo especialmente para o G1 mostrando a recuperação da menina.
Sofia nasceu com Síndrome de Berdon, uma doença rara que causa a má formação de vários órgãos do sistema digestivo. Ela sequer conheceu a casa dos pais, em Votorantim(SP), já que sempre ficou hospitalizada. A menina chegou a ser submetida a três procedimentos cirúrgicos no Brasil, mas ainda necessitava de atendimento especializado para a síndrome rara e para o transplante multivisceral, que não poderia ser realizado no país. A transferência para os EUA só aconteceu por determinação da Justiça, que ordenou que a cirurgia, estimada em R$ 2 milhões, fosse paga pelo governo brasileiro. No transplante Sofia recebeu estômago, fígado, pâncreas, intestino delgado e cólon. Não foi preciso trocar um dos rins, como foi anunciado pelos especialistas do hospital. Os orgãos foram doados de um bebê do estado da Flórida, segundo a mãe.
A menina começou a receber as primeiras alimentações da vida por meio de soluções administradas diretamente em sua barriga, cinco dias após a cirurgia. Antes, Sofia se alimentava por uma nutrição que era introduzida no organismo em uma veia localizada próximo ao coração. "Era um tipo de soro com todos os nutrientes que o organismo dela precisava, chamada de parenteral", lembra a mãe.
Com a troca dos cinco órgãos do sistema digestivo, a bebê ganhou a oportunidade de ter uma vida 'normal' e, assim, se alimentar como qualquer criança da sua idade. Mas, enquanto o organismo ainda está se familiarizando com os novos órgãos, ela tem se alimentado com um produto especial. "É como se fosse um leitinho, que está sendo introduzido através de uma sonda para ela", explica a mãe.
Novas sensações
Por conta da digestão do alimento, Sofia tem experimentado novas sensações e chega a se assustar com um simples arroto. "Toda vez que ela arrota, acaba gritando. Penso eu que por achar que vai doer, já que ela nunca tinha feito isso antes. Ela me olha como se quisesse me perguntar 'o que está acontecendo? Eu nunca senti isso antes'", acredita a mãe.
Como a menina não está mais sendo sedada, ela anda sentindo algumas dores, que, segundo Patricia, são normais por conta do procedimento cirúrgico que ela foi submetida. "Ela está meio tristinha, pois toda sedação foi embora. Ela acaba ficando mais tempo dormindo, mas quando acorda sempre se demonstra bem, apesar de tudo", afirma a mãe.
A expectativa é que nos próximos dias Sofia seja transferida e deixe a UTI Neonatal, indo para um quarto normal no hospital Jackson Memoral, onde ela foi operada, em Miami, nos Estados Unidos. Mas antes disso, os médicos responsáveis pela recuperação da menina, o cirurgião especializado em transplantes Rodrigo Vianna e a pediatra Jennifer Garcia, querem deixar Sofia mais forte e não tão exposta a possíveis infecções neste processo pós-operatório, que é importante para o sucesso do transplante dos órgãos. "Mas, graças a Deus, ela está bem e logo logo vou poder vê-la comer pela 'boquinha'", finaliza a mãe.
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