quarta-feira, 3 de junho de 2015

Chuck Blazer confessa corrupção na Fifa: suborno nas Copas de 98 e 2010

Chuck Blazer ex-presidente Concacaf (Foto: Getty Images)

Foi divulgada nesta quarta-feira a confissão do americano Chuck Blazer, 70 anos, ex-integrante do Comitê Executivo da Fifa, da Concacaf e da Federação de Futebol dos Estados Unifos. No documento, com 40 páginas, ele admite a prática de suborno na entidade máxima do futebol - envolvendo já a escolha da sede da Copa do Mundo de 1998, na França (a propina seria por votos a favor de Marrocos), e também confirmando o pagamento de propina a favor da África do Sul como local do Mundial de 2010. No material, o juiz Raymond Dearie trata a Fifa como uma "organização criminosa influenciada por extorsão". 

Há trechos protegidos por uma tarja preta - entre eles, uma resposta subsequente a uma pergunta sobre se ele gostaria de acrescentar mais alguma. Aí está, ainda em sigilo, um ponto que pode ser decisivo na investigação. 

A confissão, que é de 25 de novembro de 2013, não escancara novos nomes. No depoimento, ele deixa claro, porém, que não age sozinho no esquema de corrupção. Sete dirigentes da entidade foram presos na semana passada, em Zurique, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

Durante minha associação com a Fifa e a Concacaf, entre outras coisas, eu e outros concordamos que eu ou um coconspirador iríamos cometer pelo menos dois atos de atividades ilícitas. Entre outras coisas, eu concordei com outras pessoas em (ou por volta de) 1992 em facilitar a aceitação de suborno em conjunção com a escolha do país-sede para a Copa do Mundo de 1998. Começando em (ou por volta de) 1993 e continuando até o início dos anos 2000, eu e outros concordamos em aceitar suborno e propinas em conjunção com a transmissão e outros direitos das Copas Ouro de 1996, 1998, 2000, 2002 e 2003. Começando em (ou por volta de) 2004 e continuando até 2011, eu e outros no comitê executivo da Fifa concordamos em aceitar suborno em conjunção com a escolha da África do Sul como país-sede da Copa do Mundo de 2010. Entre outras coisas, minhas ações descritas acima tinham participantes e resultados comuns.
Documento Blaze (Foto: Divulgação)

Blazer se declara culpado. O diálogo é assim:

Juiz: O senhor está pronto para fazer sua declaração?
Blazer: Sim.
Juiz: Qual sua alegação dos pontos um a dez?
Blazer: Culpado.
Juiz: Você está se declarando culpado voluntariamente?
Blazer: Sim, estou.
Juiz: Por sua própria e única vontade?
Blazer: Totalmente.
Juiz: Ninguém o forçou a se declarar culpado?
Blazer: Não.

Em boa parte do documento, Blazer diz que usou rede eletrônica, bancos e aeroportos dos Estados Unidos para cometer seus crimes. É esse o argumento usado pelos americanos para entrar na investigação e prender sete pessoas mesmo fora de seu território, na Suíça.

Documento Blaze 31 (Foto: Divulgação)

O escândalo explodiu de vez na semana passada e resultou na decisão do atual presidente da Fifa, Joseph Blatter, de entregar o cargo. Segundo as imprensas americana e britânica, a investigação está fechando o cerco em torno dele.

 Documento Blaze 35 (Foto: Divulgação)


Os diálogos incluem menções de Blazer ao tratamento de um câncer e de diabetes. O juiz menciona que o acusado está em uma cadeira de rodas. Ele está hospitalizado nos Estados Unidos ainda hoje.

Pronúncia e acusações

O documento é cheio de curiosidades, incluindo o pedido do juiz para que se feche a porta da sala e se verifique se há alguém querendo entrar, uma brincadeira sobre Blazer não se lembrar de imediato sua idade e a dificuldade do juiz para pronunciar Fifa. É o próprio acusado quem ensina a pronúncia para ele.
O juiz fala em dez acusações. Entre elas, estão conspiração, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e violação de leis fiscais. A Blazer é informado que ele pode pegar até 20 anos de prisão.

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