Foi
divulgada nesta quarta-feira a confissão do americano Chuck Blazer, 70 anos,
ex-integrante do Comitê Executivo da Fifa, da Concacaf e da Federação de
Futebol dos Estados Unifos. No documento, com 40 páginas, ele admite a prática
de suborno na entidade máxima do futebol - envolvendo já a escolha da sede da
Copa do Mundo de 1998, na França (a propina seria por votos a favor de
Marrocos), e também confirmando o pagamento de propina a favor da África do Sul
como local do Mundial de 2010. No material, o juiz Raymond Dearie trata a Fifa
como uma "organização criminosa influenciada por extorsão".
Há
trechos protegidos por uma tarja preta - entre eles, uma resposta subsequente a
uma pergunta sobre se ele gostaria de acrescentar mais alguma. Aí está, ainda
em sigilo, um ponto que pode ser decisivo na investigação.
A
confissão, que é de 25 de novembro de 2013, não escancara novos nomes. No
depoimento, ele deixa claro, porém, que não age sozinho no esquema de
corrupção. Sete dirigentes da entidade foram presos na semana passada, em
Zurique, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin.
- Durante
minha associação com a Fifa e a Concacaf, entre outras coisas, eu e outros
concordamos que eu ou um coconspirador iríamos cometer pelo menos dois atos de
atividades ilícitas. Entre outras coisas, eu concordei com outras pessoas em
(ou por volta de) 1992 em facilitar a aceitação de suborno em conjunção com a
escolha do país-sede para a Copa do Mundo de 1998. Começando em (ou por volta
de) 1993 e continuando até o início dos anos 2000, eu e outros concordamos em
aceitar suborno e propinas em conjunção com a transmissão e outros direitos das
Copas Ouro de 1996, 1998, 2000, 2002 e 2003. Começando em (ou por volta de)
2004 e continuando até 2011, eu e outros no comitê executivo da Fifa
concordamos em aceitar suborno em conjunção com a escolha da África do Sul como
país-sede da Copa do Mundo de 2010. Entre outras coisas, minhas ações descritas
acima tinham participantes e resultados comuns.
Blazer se
declara culpado. O diálogo é assim:
Juiz: O
senhor está pronto para fazer sua declaração?
Blazer:
Sim.
Juiz:
Qual sua alegação dos pontos um a dez?
Blazer:
Culpado.
Juiz:
Você está se declarando culpado voluntariamente?
Blazer:
Sim, estou.
Juiz: Por
sua própria e única vontade?
Blazer:
Totalmente.
Juiz:
Ninguém o forçou a se declarar culpado?
Blazer:
Não.
Em boa
parte do documento, Blazer diz que usou rede eletrônica, bancos e aeroportos
dos Estados Unidos para cometer seus crimes. É esse o argumento usado pelos
americanos para entrar na investigação e prender sete pessoas mesmo fora de seu
território, na Suíça.
O escândalo explodiu de vez na
semana passada e resultou na decisão do atual presidente da Fifa, Joseph
Blatter, de entregar o cargo. Segundo as imprensas americana e britânica, a
investigação está fechando o cerco em torno dele.
Os diálogos incluem menções de
Blazer ao tratamento de um câncer e de diabetes. O juiz menciona que o acusado
está em uma cadeira de rodas. Ele está hospitalizado nos Estados Unidos ainda
hoje.
Pronúncia e acusações
O documento é cheio de
curiosidades, incluindo o pedido do juiz para que se feche a porta da sala e se
verifique se há alguém querendo entrar, uma brincadeira sobre Blazer não se
lembrar de imediato sua idade e a dificuldade do juiz para pronunciar Fifa. É o
próprio acusado quem ensina a pronúncia para ele.
O juiz fala em dez acusações.
Entre elas, estão conspiração, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e
violação de leis fiscais. A Blazer é informado que ele pode pegar até 20 anos
de prisão.
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