A noção de sustentabilidade
cultural aponta para uma nova abordagem interdisciplinar, dedicada a aumentar o
significado da cultura e a importância das suas características tangíveis e
intangíveis nos campos locais, regionais e globais do desenvolvimento sustentável. A cultura é
um aspecto crucial da sustentabilidade,
pois consegue ilustrar como encaramos os nossos recursos naturais, e, sobretudo
como construímos e cuidamos das nossas relações com os outros a curto e longo
prazo, com vista à criação de um mundo mais sustentável a todos os níveis
sociais.
No entanto, o papel da cultura
no quadro do desenvolvimento sustentável é relativamente vago a nível
científico, político e económico.
A cultura já tem sido retratada como o quarto pilar do desenvolvimento sustentável, ou
mesmo como dimensão chave para as suas metas. Porém, o aumento presente
dos desafios ecológicos, económicos e sociais implica uma atenção cada vez
maior relativamente ao papel da cultura para o desenvolvimento integrado da
investigação e das políticas no campo da sustentabilidade.
Gestão Política e Governação
Os temas do desenvolvimento
sustentável e da cultura têm sido relacionados em diversas convenções e
documentos dedicados à gestão política e
governação. Por exemplo, as conexões entre biodiversidade e cultura foram já
reconhecidas pela Convenção da Biodiversidade (1992), e desde então o
reconhecimento da sua importância alastrou-se através de outras plataformas de
discussão e documentos. No relatório A Nossa Diversidade Criativa (Comissão
Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento 1995), resultante da Década da
UNESCO para o Desenvolvimento Cultural (1988–1997), a cultura foi reconhecida
como um fator que desempenha não só um papel instrumental na promoção do
desenvolvimento económico, mas também um papel central nas sociedades como algo
a alcançar enquanto fim em si mesmo. Em acréscimo, a cultura é igualmente
mencionada como aspecto crucial para a promoção e construção do desenvolvimento
sustentável em diversos documentos de governação provenientes do Conselho
Europeu e da Comissão Europeia, como sendo o In From
the Margins (Conselho Europeu 1995) e a Agenda Europeia para a
Cultura (Comissão Europeia 2007).
Investigação Académica
No campo da investigação
acadêmica, a cultura tem sido essencialmente tida como um aspecto importante do
desenvolvimento sustentável no contexto dos países em vias de desenvolvimentos,
conservação da natureza e populações e culturas nativas, mas assistimos
igualmente à sua consideração nos setores da produção primária ou do turismo e
do desenvolvimento local e regional. Nestes domínios, a sustentabilidade
cultural surge como algo que requere, por exemplo, o reconhecimento e a
valorização de culturas materiais e simbólicas a nível local e regional, ou a
participação democrática das populações na definição das estratégias de
desenvolvimento dos seus contextos sociais e territoriais.
Contudo, no âmbito da
investigação acadêmica a noção de sustentabilidade cultural também surge
frequentemente associada ao papel das artes, da criatividade e das indústrias
culturais no desenvolvimento e planeamento econômico, político e social. Neste
contexto, a promoção da diversidade cultural e a preservação de heranças
culturais tangíveis e intangíveis têm sido consideradas como fatores chave para
o desenvolvimento sustentável. Em acréscimo, para além destes domínios, a
sustentabilidade cultural também tem sido estudada em quadros de mudanças de
paradigma, relativas a estilos de vida cotidianos, ou mesmo referentes a
interseções científicas interdisciplinares, ambos os casos com base em
parâmetros ecológicos, éticos e participativos, do comércio justo à mobilidade
urbana e ao design inclusivo.
Iniciativas
Existem diversas iniciativas
com o objectivo de integrar a cultura nos quadros maiores do desenvolvimento
sustentável. Por exemplo, a 'Agenda 21 Para a Cultura'
é um documento de referência para as instituições governamentais definirem as
suas políticas culturais no âmbito do desenvolvimento sustentável. Este
documento é baseado nos princípios da diversidade cultural, direitos humanos,
diálogo intercultural, democracia participativa, sustentabilidade e paz. Por
sua vez, iniciativas de carácter mais académico como a Acção COST IS1007
(2011–2015) 'Investigar a Sustentabilidade Cultural' apontam para uma
compreensão alargada de base multidisciplinar sobre as inúmeras dimensões
culturais que se podem e devem encontrar no seio do desenvolvimento sustentável.
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