quinta-feira, 16 de abril de 2015

Moradores de distritos sem homicídio celebram, mas reclamam de assaltos

professor de administração Flávio Galio, de 43 anos, mora há mais de 4 anos em um condomínio no bairro. (Foto: Caio Kenji/G1)
Aqui é uma das ilhas de tranquilidade que São Paulo tem. Eu me sinto bem à vontade com relação à violência""Uma ilha de tranquilidade". É assim que o professor de administração Flávio Galio, de 43 anos, morador do bairro Campo Grande, na Zona Sul de São Paulo, define a região. O local, sob jurisdição do 99º Distrito Policial, e o Parque da Mooca, na Zona Leste, área do 57º DP, são os únicos que não registraram nem um homicídio sequer em 2014.

Flávio Galio,
professor de administração
Galio, que mora há mais de quatro anos em um condomínio na região, elogia a tranquilidade do local. “Ando muito de bike pelo bairro. Eu busco minha filha de bike na escola. Acho um bairro muito tranquilo. Aqui é uma das ilhas de tranquilidade que São Paulo tem. Eu me sinto bem à vontade com relação à violência”, conta.
Ele diz que, durante todos esses anos, se lembra de apenas um caso nas redondezas. “Uma vez a polícia matou três suspeitos de terem roubado um carro. Eu só me lembro de um caso, para você ter uma ideia.”
99º dp campo grande, zona sul
O aposentado Luiz Prado, de 75 anos, reforça a sensação de segurança. “Eu considero o bairro tranquilo, graças a Deus. Homicídio não tem, mas ladrão não tem jeito. Tem em qualquer lugar.” Ele diz que, por isso, tem um portão reforçado e sempre fica atento.
“Antigamente era muito melhor. Quando vim pra cá, a rua ainda era de terra, a água de poço. Agora tem que ficar atento. Não dá para ficar à vontade. Quando vejo alguém estranho, eu paro e espero passar antes de sair”, conta. 
Prado, no entanto, diz que não escuta relatos de invasões de casas. “Às vezes, tem uns que quebram os vidros dos carros e tentam roubar objetos, toca-fitas.”
Luiz Prado, morador do Campo Grande, diz que antigamente região era ainda mais segura. (Foto: Caio Kenji/G1)
A comerciante Flávia Sampaio Seabra, de 42 anos, tem uma loja de roupas em uma esquina da Rua Sargento Manoel Silva, onde fica o 99º Distrito Policial. Ela diz ter sido vítima de assaltos, mas apenas duas vezes. Em uma delas, uma mulher furtou uma blusa; na outra, um homem roubou um celular, o computador e a máquina de cartão de crédito. “Ele me amarrou na cadeira e levou tudo o que eu tinha”, lembra.
Segundo ela, entretanto, os casos mais comuns são de motociclistas que abordam pessoas que atravessam com o celular na mão. “Tem mulher que entrar aqui para pedir ajuda e dizer que está sendo seguida.”
Dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que houve 1.315 roubos e 1.413 furtos na região em 2014, os principais registros. Além disso, 566 roubos de veículos e 661 furtos de automóveis também ocorreram.
Parque da Mooca
No Parque da Mooca, o clima relatado pelos moradores é semelhante: a preocupação também fica por conta dos assaltos. O comerciante Davilson Lopes, de 63 anos, nasceu e sempre morou na Mooca. “A sensação de segurança é grande. Assalto é o que mais preocupa, mas tenho a impressão de que os ladrões estão de passagem e tentam fazer dinheiro para comprar droga. A gente ouve falar de assalto, mas dizer que alguém ficou machucado, não.”

Há 20 anos, a casa dele foi invadida por assaltantes armados, mas ele afirma não ter ficado com medo. “Eu nem esquentei. A única coisa que levaram foi o rádio da minha sogra. Depois, eu tive que dar outro para ela”, conta. O comércio que mantém há 14 anos no bairro jamais foi alvo de um assalto.
Davilson Lopes, de 63 anos, nasceu e sempre morou na Mooca. “A sensação de segurança é grande." (Foto: Caio Kenji/G1)
O comerciante diz manter uma relação próxima da polícia. “O policiamento do bairro não é ruim tanto de moto como de viaturas. Os policiais estão sempre ligados no que acontece por aqui. Eu tenho os telefones dos policiais militares, mas nunca precisei. A delegacia também fica perto do meu estabelecimento.”
A colocação de câmeras de segurança também contribui para a tranquilidade da região, segundo ele. “Eu adoro a Mooca, é o meu reduto. O bairro é tranquilíssimo, bom para morar, para trabalhar, se divertir. A segurança valoriza os imóveis, o ponto, o nosso comércio."
57º dp, parque da mooca, zona leste
O comerciante Miguel Andres, de 49 anos, mora na casa onde nasceu, na Rua do Oratório. Há um mês, a porta da frente da residência está quebrada, mas ainda assim ele diz sair para trabalhar tranquilo. “Eu comprei a porta, mas o rapaz não vem instalar, mas está aí. Não acontece nada. Eu durmo com a janela aberta. É lógico que minha casa não chama a atenção, mas a gente vê em outros bairros bandidos roubando trabalhador.”
Miguel Andres, comerciante: Eu comprei a porta,  mas o rapaz não vem instalar, mas está aí.  Não acontece nada. " (Foto: Caio Kenji/G1)
Dono de um comércio há 20 anos, Andres também nunca foi assaltado. “Ouvimos falar em roubo de carro, mas nada assim muito grave. O meu carro eu deixo dormir, às vezes, na porta de casa e nunca aconteceu nada.” Dados da SSP apontam para 878 furtos de veículos e 195 roubos de carros em 2014.
Para ele, deixar a Mooca, só depois de aposentar. “Eu quero ir morar em Peruíbe depois de aposentar, mas se você falar com a minha filha de 22 anos ela não quer mudar, não.”

Origem europeia
O delegado Ricardo Salvatori, titular do 57º DP, aponta que homicídios são raros, mas lembra o registro de roubo seguido de morte, como o registrado contra o economista Thiago Cardoso Lopes, de 28 anos. "Nós tivemos esse ano latrocínio, foi crime contra o patrimônio. O objetivo era o roubo do veículo. Homicídio a gente chega a ficar bastante tempo sem", diz.

A comunidade contribui com a polícia, não tem favela na área."
Ricardo Salvatori,
titular do 57º DP
O delegado diz que "um milhão de fatores" explicam a ausência de homicídios, mas ressalta a proximidade com a comunidade. "A comunidade contribui com a polícia, não tem favela na área. É uma população de origem europeia, que sabe cobrar seus direitos."

Salvatori destaca ainda que costuma fazer uma série de ações preventivas. Os policiais tentam acompanhar de perto brigas de vizinhos e problemas entre marido e mulher. “No caso de briga de vizinhos, a polícia não deixa crescer para algo maior em que um mate o outro. Quando há ameaça a gente vai ver”, conta.

Vizinhança solidária
Walter Augusto Marques, de 75 anos, presidente do Conselho de Segurança do Alto da Mooca há quase 30, elenca alguns fatores para o clima no bairro: o tempo de atendimento quando uma ocorrência é registrada, um trabalho integrado e sem concorrência entre Polícia Militar e Polícia Civil e uma vizinhança solidária.

A região do Parque da Mooca é citada pelo vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, como um exemplo de local que recebe atenção do poder público e, por isso, obtém bons resultados. “Quando se tem uma área nobre, onde o serviço público existe, onde a polícia se faz presente, onde há equipamentos públicos, o homicídio tende a cair. Pode até ter registro de roubos ou outros crimes patrimoniais, mas o índice de assassinatos é menor.”
Família de economista vítima de latrocínio espalhou cartazes por ruas da Mooca. (Foto: Caio Kenji/G1)Família de economista vítima de latrocínio espalhou cartazes por ruas da Mooca. 

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