A hesitação do governo Dilma Rousseff diante da crise econômica e o vaivém nas propostas orçamentárias – que custou ao Brasil o rebaixamento na avaliação da agência de classificação de risco Standard & Poor’s – tiveram um efeito importante nas perspectivas políticas para seu governo. O fator crítico para a sobrevivência de DIlma no cargo sempre foi sua popularidade. Como constatou o vice-presidente Michel Temer, numa reedição da lei da gravidade aplicada ao universo político, presidente algum permanece três anos e meio no cargo com níveis de popularidade tão baixos. A popularidade dela, como escrevi dois meses atrás, está diretamente associada à situação da economia.
Para tentar elevar os índices de aprovação da presidente, o governo olhou para o lugar certo. Era fundamental, do ponto de vista dela, algum esboço de reação econômica para afastar o fantasma do impeachment. Mas deu errado. As ações atabalhoadas, a inépcia para apresentar uma proposta de Orçamento consistente e a dificuldade política na relação com o PMDB acabaram por desfazer qualquer esperança de uma agenda econômica consistente. As propostas, muitas delas sensatas, da Agenda Brasil, formulada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, foram engavetadas sem nenhum tipo de consequência. O que veio foi um festival de remendos orçamentários e balões de ensaio que ainda não acabou, de que o último exemplo foi a entrevista coletiva de ontem, em que os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) tentavam convencer o público da sensatez do pacote fiscal com muito palavrório e poucos sorrisos.
Agora, Dilma terá de enfrentar uma batalha ladeira acima para aprovar no Congresso medidas impopulares, como a nova CPMF. Concomitantemente, um novo pedido de impeachment deverá ser apresentado por uma figura histórica do maior relevo, o jurista e ex-petista Hélio Bicudo. A novidade no cenário atual é que, em vez de se recuperar, a perspectiva econômica deteriorou-se. Quem olha, portanto, apenas para o indicador mais significativo, de modo a vislumbrar o que pode acontecer com Dilma, não pode chegar a outra conclusão: depois do anúncio de ontem, a fragilidade de seu governo é maior.
Exatamente um mês atrás, centenas de milhares de brasileiros foram às ruas para, democraticamente, manifestar seu desejo de que seja apeada do poder. Apesar do clamor, o cenário do impeachment era visto como improvável, tamanhas as incertezas associadas a ele, como escrevi na ocasião. Há uma enorme diferença entre riscos mensuráveis e incertezas imponderáveis, como qualquer alfabetizado em estatística saberá explicar. Mesmo que sejam enormes, os agentes racionais sempre preferem riscos conhecidos à incerteza.
Em apenas um mês, porém, o cenário sofreu uma alteração. Prova disso é que o risco associado aos papeis da nossa dívida foi rebaixado à categoria de especulação. Há um justificado ceticismo em relação à capacidade de este governo conseguir recuperar um mínimo de credibilidade na economia. O efeito do rebaixamento na política será manter a popularidade de DIlma no chão. Mesmo que o Congresso seja convencido a aprovar a CPMF e as demais medidas anunciadas ontem, fará isso a contragosto, à revelia da opinião pública. Sem recuperação econômica, não haverá perspectiva de que ela consiga reerguer seus níveis de aprovação. Ninguém sabe o que acontecerá. Um fato, contudo, é indiscutível: é impossível revogar a lei da gravidade.
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